Capuchos 2012
Com
as cumplicidades do azul, confluência de Tejo, mar e céu, pela ponte me faço ao
sul, não em busca de uma “Trovante” 125, mas da A6 que me traz de volta ao
Alentejo, por entre sobreiros, olivais, vinhas e alguns muito espaçados choupos,
único vestígio das ribeiras que o verão matou.
É
fim-de-semana de Capuchos e chego para dizer: presente, quando se acenderem as
luzes do arraial no velho largo fronteiro ao convento que em Vila Viçosa dá
nome às festas anuais.
Sei
que amanhã e nos dias seguintes, não me despertarei com uma Banda Filarmónica a
passar à minha rua, daquelas que com um efeito semelhante ao de uma mola eficaz,
fazia a vizinhança saltar para as janelas e varandas, partilhando os tons dos pijamas
e os ares ensonados.
Já
não haverá tômbolas e quermesses de venda de rifas em papel picotado, daquelas
que colocavam os mais sortudos a passear no arraial com coelhos, galinhas ou
patos vivos.
No
canto do Largo que fica junto à fonte já não verei a vedação para o baile
baptizado de Dancing (em Alentejano,
“dancinguim”), onde ao som do grupo calipolense Star Melodia, bailavam os pares de namorados ou então alguns pares
de mulheres que decidiam com a solidariedade umas das outras, vingar-se dos
maridos que se encostavam toda à noite ao balcão do bar a beber tanto vinho e
cerveja quanto podiam.
Sei
que já não irei à Praça de Touros ver um espectáculo de Ranchos Folclóricos ou
de variedades, daqueles em que os artistas mais em voga na discografia do verão
jamais corriam o risco de se engasgar, tal a qualidade do playback com que brindavam o público.
Para
ver as largadas de touros, também já não me porei à janela da casa do meu amigo
Manuel, aproveitando o facto de o sol nos incidir intenso sobre a cabeça e
também o nosso pouco interesse pelo espectáculo taurino, para brincarmos uns
com os outros e nos deliciarmos com os petiscos e os bolos que a mãe dele
sempre colocava na mesa em dia de festa.
Agora
tudo é diferente, mas a festa continua.
Mudaram-se
os tempos, mudámos nós, e a festa, obviamente que nos acompanhou nessa mudança.
Adaptou-se a nós.
Mas
o essencial, a raiz da festa, permanece e permanecerá sempre igual, sendo esta
alegria de podermos voltar ao espaço em que crescemos, a celebrar a alegria de
estarmos juntos, a festejar com abraços, beijos, sorrisos e olás, a amizade que
jamais deixaremos morrer.
É
isso que me move estrada fora e rumo ao meu sul.
Já,
e sempre, em festa.
Há festa na terra !
ResponderEliminarE uma embriaguês que faz girar, toda a família os amigos para se encontram no arraial
RUI PEREIRA