Restauro à Espanhola
Há
alguns meses, Cecília Gimenez, uma octogenária espanhola, paroquiana activa de
uma pequena localidade nos arredores de Saragoça, achando-se com dotes de
artista, resolveu “restaurar” um famoso e valioso fresco existente na sua
igreja, datado do Século XIX e representando o rosto de Cristo.
O
resultado do seu trabalho situa-se nos territórios da caricatura e pode
dizer-se que a intervenção ainda conseguiu estar muito para lá das bombásticas
plásticas da Manuela Moura Guedes.
Ontem,
ao conhecer os resultados da execução orçamental relativos ao primeiro semestre
de 2012, entre deficits, PIB’s e demais instrumentos e escalas de avaliação do
estado da nossa economia, lembrei-me da Cecília Gimenez.
É
um facto de que o país estava a necessitar de uma intervenção e de um restauro,
mas os artistas que tomaram em mãos esse trabalho, sobre as ordens e o mecenato
da Troika, seguindo uma cartilha teórica e experimental que tem a forma de um memorandum ao estilo das instruções do
IKEA (“Faça um móvel sem nunca ter sido carpinteiro pois é tão simples como ser
doutor sem nunca ter ido à escola“) deixaram-no no que é hoje: uma caricatura
de país.
Aliás,
conseguiram ser piores do que a velhota Cecília pois não consta que ela tenha
levado à ruína os restantes paroquianos a pretexto de comprar as tintas e os
restantes materiais para o restauro. E a ela, o que faltava em jeito sobrava em
voluntarismo, coisa que nem por sombras, estes “líderes” desajeitados do nosso
tempo, conseguem ter, nem apenas por um pouco que seja.
E
não houvesse tanta dor de muitos, e esta caricatura de país, como a do Cristo
de Saragoça, até poderia ter alguma graça.
Com urgência venham mestres e pedreiros, e tragam a sua arte, que os
serventes e aprendizes, sozinhos, estão a destruir-nos os alicerces e estão a
dar cabo de ti, Portugal.
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