Outono
Está
renitente o Verão em ir embora, atacando com graus de temperatura a rondar os
trinta, mesmo quando o calendário confirma que o Outono já chegou e que só o
próximo e longínquo Junho nos devolverá à magia da estação do nosso encontro
favorito com as férias e o mar.
Mas
não se importa o Outono com os graus extra deste encore do Verão, pois do sol faz uso para amadurecer e tornar mais doces
os marmelos, e também para nos encher de cor e brilho, os dias da colheita das
uvas que são prenúncio de bom vinho quando Novembro nos trouxer as castanhas para
juntos brindarmos a S. Martinho.
Está
chegada a hora de eleger e apostar nos melões a pendurar em rede de ráfia por
cima das mesas onde brilharão os tons laranja dos dióspiros maduros, para que
atravessando os Santos, os Finados, a Restauração e a Padroeira, nos possam dar
o prazer do sabor a Verão na noite da consoada.
Em
breve se encolherão definitivamente os dias, fechar-se-ão os toldos e os chapéus
nas esplanadas dos cafés e dos quiosques, acrescentaremos o número de peças e o
peso das roupas que vestiremos, libertaremos da naftalina os edredões de penas
que devolveremos às camas, e muito naturalmente retornaremos a casa, procurando
a protecção do frio e da chuva que esperamos e desejamos seja intensa.
Entre
milhares de tons únicos de laranja e castanho, as folhas dos plátanos
prepararão o seu adeus na hora de chegar Dezembro, sendo para já o perfeito
cenário e dando a adequada cor a estes dias que parecem ter nascido para nos
devolver tranquilamente aos espaços da intimidade de cada um consigo próprio.
O
Outono, a viagem de volta ao nosso mundo.
Nos
dias de Outono da minha infância em Vila Viçosa, sentíamos por esta altura, o
cheiro das malas novas já cheias com os cadernos e as sebentas que a partir de
7 de Outubro, sempre e impreterivelmente, enchíamos com o saber oferecido pelos
nossos Mestres-escola.
Os
bibes de xadrez azul e branco já estavam pendurados nos guarda-fatos e
estávamos prontos para voltar, junto com os amigos, à época do berlinde e do
pião, que brincávamos após ter saído da escola e depois de termos comido uma
boa fatia de pão com a marmelada feita recentemente e retirada de alguma das
muitas taças que, cobertas por papel vegetal, as nossas mães tinham posto a
secar ao sol.
O
Outono, o passaporte para o regresso ao conforto dos nossos amigos mais amigos.
Viva
o Outono.
Gosto do outono porque ele é frio suficiente para refrescar o calor...
ResponderEliminarE é quente o suficiente para aquecer o frio!
RUI PEREIRA