De cócoras a perder a guerra
Berlim
é uma cidade distendida, repleta de árvores em jardins e praças, de onde
emergem em são convívio, os edifícios com história e os edifícios candidatos a
entrar na história da arquitectura pela mão dos melhores arquitectos do
planeta.
O
muro, recordado hoje por uma linha em pedra que sobressai do asfalto, caiu há
muito quando parecia querer erguer-se na Europa, a esperança de um tempo novo.
O
táxi avança e o motorista, recrutado agente de propaganda da penitência alemã,
concentra a conversa em redor dos monumentos que traduzem o assumir da
responsabilidade da sua pátria no extermínio dos judeus, preocupado, obstinado
mesmo, em que registemos o arrependimento do seu povo.
A
penitência, esculpida em pedra pela arte de grandes artistas, uma atracção
turística da nova Alemanha.
Logo
após o Bundestag com a cúpula de Norman
Foster, aparece-nos à esquerda a chancelaria com a sua inacreditável forma de
uma gigantesca máquina de lavar.
O
taxista aponta o dedo e afirma:
-
Aqui trabalha Angela Merkel.
Sinto
um arrepio na espinha e quase lhe peço para acelerar, não vá a senhora ver-me
por ali e vir à janela receitar-me mais austeridade.
Penso
no Pedro e no Paulo, que não se entendem, como se não soubéssemos há muito "casamentos
com o Portas acabam em relações mortas":
-
De que vale o esforço para se entenderem se algures num dos milhares de
gabinetes deste edifício, há alguém que dita as regras e que realmente manda em
nós.
Mas
nem foi necessário que a Merkel falasse pois estou a ser conduzido por um seu
porta-voz, presumo que não oficial:
-
Nós trabalhamos muito e estamos a ajudar a Europa. A Grécia e o seu Estado
Social vivem à custa do nosso dinheiro.
Penso
para mim:
-
Depois da penitência só cá faltava a generosidade. Daqui a pouco canonizo-te.
Há
coisas que duas gerações não bastam para destruir e a sobranceria está no
código genético desta gente que acredita hoje como há 70 anos que há a Alemanha
e há o resto da Europa.
A
União Europeia e o Euro foram sonhos de grandes líderes que morrerão pela mão
de chefes medíocres, incompetentes e sem visão, ao jeito das fortunas
familiares esbanjadas pelos filhos esbanjadores dos pais muito empreendedores.
A
União Europeia e o Euro foram utilizados pela Alemanha enquanto foi conveniente
e morrerão no exacto tempo em que a Alemanha os fizer implodir.
O
meu taxista, a Merkel e os alemães em geral sentem-se tão Europeus como eu me
sinto Esquimó.
Com
a contrição dos falsos e a ilusão dos mágicos, são apenas e só artistas de
palco, ardilosos iscos que atraem e condenam os que geograficamente partilham
com eles o espaço Europeu.
Por
eles, jamais a política e a economia criarão cumplicidades com a geografia.
O
problema é a nossa cumplicidade e responsabilidade em tudo isto. É que a vaidade,
a sobranceria e as pretensões desta gente, têm raízes na incompetência, na má
gestão e no facilitismo com que nos desgovernámos e fomos sendo desgovernados por
cá.
A
nossa fragilidade é o melhor mote para as suas ambições.
Como
os milhares de lojas de compra de ouro que nasceram nas nossas cidades, a
Alemanha limitou-se a pôr banca a uma esquina de Bruxelas onde recebe em Euros
e com a argúcia dos penhores, as parcelas da nossa independência.
E
travar o processo?
Só
com exigência, rigor e já agora, com Homens, porque o campeonato é duro e com
juniores, em campo e no banco de suplentes, nada mais nos resta do que perder por
goleada.
Convém
não esquecer que quem perde a guerra, é quem está de cócoras. E está mesmo bem
de ver que ao contrário do ditado, a continuarmos assim, jamais a Alemanha perderá
esta.
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