Vai a ginja?
Não
tem e nunca terá segredos, esta casa sem paredes mas que é lar de afectos, casa
nascida do conforto do encontro dos olhares com nome, que se entregam e se
entrelaçam pela cumplicidade das histórias partilhadas, na teia que faz nascer
a festa.
A
festa de todos, e a festa de cada um.
É
sempre assim quando é Setembro e os arcos de luzes nos apontam os caminhos no
velho Largo dos Capuchos, em Vila Viçosa.
Foi
assim mais uma vez este fim-de-semana.
A
Banda Filarmónica União Calipolense tocou ontem no coreto e inovou no
reportório, reinventando as canções de António Variações. Inovei eu, e pela
primeira vez na vida bebi um “Caipi Melão” (Caipirinha com sabor a melão), que
não esteve nada mal para abrir a noite.
Mas
porque há coisas que nunca podem mudar, rapidamente me acerquei da roulotte da
Rosa Maria para me entregar aos devaneios de uma fartura, de boa dimensão e
adequada mistura de açúcar e canela, que me confortou o corpo e a alma.
É
que, não fosse a fartura, e o conforto não me chegaria por certo do palco onde
actuavam “Os Azeitonas”. Até ir ver os aviões para o Aeroporto de Beja, deve
ser mais interessante e dinâmico do que ouvi-los cantar. Esforçados, mas só
isso.
Entre
beijos, abraços e muita conversa, a frustração maior da noite chegou no entanto
no momento em que não fui capaz de identificar uma colega que me acompanhou
durante todo o percurso do liceu e que eu não via há quase trinta anos. Olhei e
voltei a olhar, e não fui capaz de reencontrar nada do rosto que conservei na
memória dos tempos em que na velha Escola Secundária instalada nas cavalariças
do Paço, jurávamos fidelidade à rebeldia e a celebrávamos através do canto do
Rock novo do inicio dos anos oitenta.
No
que o tempo nos transforma!
A
necessitar de anti-depressivos, oportuno esteve então o Manuel com a frase que
adoptou para a noite:
-
Vai a ginja?
Primeiro
foi uma “Ginjinha do Padre” na Barraca dos Escuteiros, e depois uma “Ginjinha
de Óbidos” em copo de chocolate, numa outra barraca concorrente. Em álcool,
ganhou definitivamente a do Padre e em sabor, a de Óbidos.
Com
ambas ganhámos nós um especial conforto para assistir ao fantástico Fogo de Artificio,
pois não houve qualquer brisa fria que se fizesse notar nos corpos, nem quando
após o soar do último morteiro nos pusemos em passo lento na multidão a caminho
de casa.
Hoje
de manhã, soltaram touros na Praça da República, e o “Grupo da Ginja”, eu, a
Manuela, o Zé Maria e o Manuel, juntou-se no Café Restauração para o debriefing da noite e para tomar um café,
que é algo que nunca se dispensa após um Festival da Ginja e após a ingestão de
umas Caipi-quaisquer coisas.
E
nem ousem perguntar-nos qual era a cor dos touros, porque não os vimos nem
procurámos vê-los.
Tudo
é sempre e só, um pretexto para estarmos juntos.
Ficamos
mais felizes quando estamos juntos, e isso é a amizade.
E
a amizade é a festa.
Apesar
de não haver segredos e jamais aparecer por lá a Teresa Guilherme, o Café
Restauração não deixa de ser para nós o espaço do confessionário e assim, após
o “conclave” desta manhã, anuncie-se que ficou nomeado o segundo fim-de-semana
de Setembro de 2013, para o regresso à nossa casa dos afectos.
Com
ou sem ginjas, Capuchos para sempre.
É triste chegar depois de acabada a festa.
ResponderEliminarAdoro festas das aldeia
RUI PEREIRA
...Tu que tens uma memória semelhante aos ficheiros do KGB, não te lembrares de um colega é muito mau sinal. Mas eu acho que era do alcool
ResponderEliminarAbraço
C Delgado