A primeira manhã de Março
O
campo bebeu da chuva uma palete de tantos tons de verde, canto à desgarrada
entre as ervas, os arbustos e as copas das muitas árvores, sinfonia da
fertilidade que o inverno sempre nos traz.
Nas
encostas dos montes onde os sobreiros sãos reis e desenham e recortam a linha
do horizonte, há infinitos pontos amarelos da pujança das azedas e das mimosas,
e aqui e ali, os troncos que atravessaram despidos o inverno, revestem-se já do
branco primavera que mais tarde nos encherá de frutos os dias do verão.
Sem
cessar e sem temor, correm loucas as ribeiras soluçando ao ritmo da carícia das
pedras e dos seixos; generosas na limpidez das suas águas e enfeitando as
margens dos aromas a que não resistimos e que colhemos na forma de hortelã e de
poejos.
Caminho
procurando a vereda que os séculos e os muitos passos de tantos Homens me
deixaram como herança na busca do meu destino. Este caminho simples e de
margens desenhadas à luz da mais pura liberdade, é uma rota que está temperada
de lama por bênção das chuvas de tantos dias…
E
a terra não me resiste e responde apaixonada ao amor que eu lhe devoto,
abraçando-se-me aos pés à medida que por ela caminho na entrega de uma suprema
devoção.
O
dia irá trazer mais chuva.
Sinto-o
no cinzento negro das nuvens sobre mim e sobre tudo o que vejo no mais além a
que chamo horizonte.
É
a primeira manhã de Março.
Uma
manhã sem sol.
Mas
que importa?
Se eu sei que neste caminhar os meus sentidos provam o paraíso, que a
terra que é minha me abraça e me quer, e se tenho a certeza de que no futuro,
Março não partirá sem que antes me deixe envolto nos dias da primavera.
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