O país perfeito co-adoptado pelo FMI
Portugal
é hoje um país socialmente perfeito.
Organizado
com base em famílias em que coabitam modelos femininos e masculinos, os filhos
são educados de forma exemplar num contexto de respeito; nunca há casos de pedofilia;
há a prática de um puro equilíbrio económico; não há quaisquer sinais ou evidência
de violência doméstica por entre a riquíssima partilha dos mais puros valores;
e não há infidelidades por parte dos pais que apenas se relacionam fisicamente
em pura e assumida monogamia em actos sexuais que têm em vista a divina
reprodução da espécie humana.
A
prostituição masculina e feminina morreu por culpa desta monogamia e da
ausência de clientes, não há casas de alterne, motéis e outras pensões de curta
permanência.
Nem
pensar em haver divórcios, adultérios, traições, abortos, etc.
Por
vezes até se torna monótona tão acérrima fidelidade aos mandamentos e a total
ausência de depressões porque todos somos efectivamente muitíssimo felizes.
Os
filhos perfeitos destes santos matrimónios, que nunca são homossexuais dado que
beneficiam de ambos os modelos, masculino e feminino, são assim pessoas muito
equilibradas, educadíssimas, indivíduos que nunca apresentam comportamentos
violentos e que são incapazes de agredir professores ou colegas de escola, para
além de que são alunos com um aproveitamento exemplar num filão inesgotável de “Einstein’s”
que em poucos anos nos tornarão uma potência mundial.
São
a base de novas células familiares perfeitas sem nunca cometer esse pecado de
praticar qualquer acto sexual antes do matrimónio que une sempre e
exclusivamente homens e mulheres virgens.
Se
não há pais para cuidar dos filhos, as crianças são exemplarmente tratadas em
instituições onde não existe violência de qualquer espécie, existindo a
garantia de Homens totalmente equilibrados num país onde sobra tempo aos juízes
por não haver corrupção e outros quaisquer desvios a uma lei amplamente seguida
por todos.
A
co-adopção é desnecessária, e por pessoas do mesmo sexo é que nem pensar.
Íamos
lá agora estragar este pedaço de paraíso…
Neste
contexto familiar exemplar fecharam-se todos os lares da terceira idade porque
os idosos são tratados em casa num contexto de afectos proporcionado por filhos
e netos. Nem pensar em existir qualquer sinal de abandono de idosos à sua sorte
em urgências de hospitais ou paragens de autocarros em sítios isolados.
E
ninguém morre sozinho neste perfeito ambiente de amor, respeito e valores
tradicionais…
Quem
conseguiu chegar até aqui na leitura deste texto por certo estará a chamar-me
louco, e até acredito que os amigos mais íntimos estejam já a consultar as
Páginas Amarelas no sentido de encontrar um psiquiatra que me possa dar
assistência.
Indevidas
pretensões de sanidade à parte, não, eu não enlouqueci.
O
país que aqui descrevo pura e simplesmente não existe e defender esta descrição
como a verdade da pátria é um exercício de loucura, cegueira e hipocrisia.
Mas
há quem o faça beliscando os mais elementares direitos dos cidadãos em sede
onde a salvaguarda desses direitos deveria ser garantida.
E
aquilo que poderia ser um país melhor passa a ser um país mais hipócrita e de
loucos com visões idílicas e românticas que não lhes moem as convicções mas
matam a felicidade dos outros.
Comentários
Enviar um comentário