Eleições e consequências
No
passado domingo houve eleições para o Parlamento Europeu e em Portugal estavam
inscritos para votar 9.685.294 cidadãos.
Juntando
os que não votaram (6.402.742) e os votos brancos (144.859) e nulos (100.483),
poderemos dizer que apenas 33% dos eleitores (3.037.210) conseguiu encontrar
uma alternativa para votar. Equivale a dizer que os que não votaram, ou que
então votaram branco ou nulo, têm dois terços dos votos e têm poder para
alterarem a Constituição da República Portuguesa se resolverem converter os
seus votos em deputados na Assembleia da República.
Um
parêntesis para dizer que respeito mais quem votou branco ou nulo do que quem
não votou, pois estes últimos deixam em aberto a interpretação para a sua
atitude. Não votaram porque estavam em viagem pelo estrangeiro, por exemplo, ou
não votaram porque queriam mostrar o seu desagrado pela situação do país… e da
Europa.
Em
relação aos eleitores que seleccionaram um partido ou coligação poderemos dizer
que são menos do que o total de habitantes dos Distritos de Lisboa (2.244.984)
e Setúbal (849.842), que perfazem um total de 3.094.826; e que são menos do que
os espectadores do jogo de futebol Suécia - Portugal em Outubro passado, a
partida que apurou a nossa selecção para o Mundial do Brasil (3.290.000).
O
PS ganhou indiscutivelmente as eleições com 1.032.895 votos, o que corresponde
efectivamente a 10,7% dos eleitores inscritos, menos de metade da população do
Distrito de Lisboa e um número semelhante ao milhão de espectadores que esta
época viu jogos no Estádio da Luz.
A
Aliança Portugal ficou em segundo lugar com 909.588 votos, 9,4% dos eleitores
inscritos, e um pouco acima da população do Distrito de Braga que é de 848.444.
Assim,
os “partidos da Troika” conseguem 20,1% dos votos dos eleitores inscritos
(1.942.483) que é bastante menos do que a população do Distrito de Lisboa e um
pouco acima da População do Distrito do Porto (1.816.045).
O
Bloco de Esquerda, o último dos partidos a eleger um deputado, teve 149.575
votos, ligeiramente superior ao número de votos brancos e ao número de
espectadores no Estádio da Luz se somarmos as assistências dos jogos com o
Futebol Clube do Porto, Sporting e Braga (147.237).
Dois
outros vencedores foram a CDU com 416.033 votos, número que é inferior à população
do Distrito de Coimbra (429.714); e o MPT que obteve 234.520 votos, que
corresponde a metade da população do Distrito de Leiria (470.765).
É
sobre estes números que hoje se discutem lideranças de partidos e se
perspectiva o futuro do país, sem que qualquer político se questione sobre o
porquê de tantos quererem ficar fora da decisão ou então não se quererem
comprometer com qualquer das alternativas.
Esta
atitude dos agentes políticos acontece essencialmente porque o poder é bem mais
importante do que os cidadãos, e porque deste modo, os cidadãos já não têm nada
de bom a esperar dos políticos.
Pelo
contrário, hoje são os políticos que esperam dos cidadãos, o voto, tendo por
base a falta de memória e o esquecimento promovido pelo tempo sobre as
consequências dos seus maus governos, nesta rotatividade imbecil em que quem
está no poder se defende, quem está na oposição promete o impossível, e em que
as apregoadas mudanças são mais ao nível das umbilicais lideranças do que das
atitudes.
O
PS queria melhor resultado porque era grande a expectativa de que três anos
tivessem sido suficientes para esquecer os seus governos dos PEC’s. A Aliança
Portugal temia pior resultado porque no fundo acreditava na mesma coisa. Mas o
PS não se ajudou e até convidou os fantasmas para voarem sobre a campanha.
E
pelo meio sempre esta patética ideia de mudança e revolução num tempo em que os
tanques já não são os dos heróis e foram substituídos pelos da lavagem da roupa
suja.
Só
se pode surpreender com estes resultados quem não assistiu ao vazio pimba da
última campanha eleitoral, da mesma forma que só se pode surpreender pela
eliminação de Portugal na Eurovisão, quem não tenha podido assistir à
performance da pimba Suzy.
E
Europa fora, para além deste desinteresse e da demissão dos cidadãos, emergem
partidos radicais capazes de fazerem perigar o tecido social e comprometer os
ideais de liberdade de um continente que agoniza às mãos de uma falsa União que
se vislumbra cada vez mais como uma estratégia não bélica mas económica para
consumar no século XXI as ambições nunca esquecidas de Napoleão, Hitler e
Mussolini: os grandes aniquilarem os pequenos.
Nós
estamos do lado dos pequenos mas a bater palmas na festa dos grandes.
Estamos
a ver qual vai ser o resultado.
Haja alguém que ouça as pessoas naquilo que elas dizem e também nos seus
silêncios.
Comentários
Enviar um comentário