A página pobre do diário de Cristina
Comporta, 30 de Julho de 2013
Querida Kitizoca,
Foi um dia supé caturra aqui p'la Pobrelândia, este
nosso execício anual pa descoberta do estranho mundo dos pobezinhos, que pa nós
é sempe um gande mistério.
No workshop matinal de "meias de leite e abatanados"
tive excelente pontuação e até ultrapassei a Cereja que se queimou no vapor da
máquina e não foi capaz de dizer mêrda logo de seguida. Ora pobezinho qu’é
pobezinho diz logo de seguida mêrda. No mínimo.
Ah, é verdade, e po falar na Cereja, já descobri poque
me ganha sempre no concurso de "peidos pós-prandiais". A caturra
compra latas de feijão cozido do Lidl. Pa mim é doping mas já que po outros
não, vou disfarçar-me um dia destes e mergulhar nesse horroroso mundo das
compras dos pobezinhos. Vou levar toalhetes de álcool pa prevenir os fungos.
Também pensei levar máscara poque sou supé alérgica aos “Bien-être’s” e aos “Old
Spice’s” do povo, mas isso podia sê mal interpetado, tá ver?
De tarde não me correu muito bem o workshop de “lavagens
de crica em bidé e uso de pó de talco após três dias sem duche”. Puxei de um
toalhete pefumado e fui desclassificada. Mas o toalhete tava ali memo à mão na
minha bolsa e o bidé de plástico era simplesmente horreroso.
Vinguei-me ao jantar e a minha febra era das melhores
pa além de que ao serão contei uma anedota supé ordinária. A melhor que
consegui mas custa-me tanto não poder usar a palavra pênis e usar o vernáculo
do povo. É do... Ah, ah, ah... Caturreira.
Tou supé orgulhosa do meu Tico, o mais piqueno, foi
campeão no concurso de "palitar os dentes sem palito e só com recurso a unhas e
auto-chupadelas”. É um prodígio e já tira pedaços do tamanho de pastéis de
bacalhau. Estou a exagerar, claro.
Já o Tecas, o más jelho não se adapta, embora já tenha
uma boa média de 3 coçadelas de testículos po minuto e já lance ca boca as
pevides a uma boa distância na disciplina de “comer melancia à moda de gaita de
beiços e só c’ajuda de um canivete”.
Mas pa chamar “garinas” às raparigas e apalpar-lhes o
rabo? Não lhe sai do corpo e não sei poquê.
Pa terminar a noite o Gigas propôs-me fazer amor à
pobezinho, diz que aprendeu há mutos anos com uma pobezinhas e sem abrigo que
antes apoiava em Monsanto.
Acedi poque ele tava supé desmotivado dado que perdeu
o “lançamento do cuspo” po Tio Manuel, vá lá saber-se como é que o velho
conseguiu, ele que até usa placa postiça que é definitivamente coisa de
pobezinho… e eu bem sei.
Gostei da experiência do “amor à pobezinho” mas foi
estranho e tenho de peguntar ao Padre Seabra se por ali posso procriar. Pa lem
disso fico baralhada: po que raio de orifício é que as pobezinhas farão então
cocó?
Agora vou dormir que o dia amanhã promete.
De manhã temos a visita excecial da Tia Filipa
Vacondeus pa um workshop de comida de pobezinhos e vamos aprender a fazer
caracóis com molho de escabeche. No final acho que nem vou pecisar do doping do
feijão… Ah, ah, ah… Caturreira.
À tarde vamos aprender a lavar louça depois de uma
sardinhada debaixo dos pinheiros, em alguidares de plástico e com a ajuda do Presto.
Só espero que os glutões não me levem o que resta das unhas que já estão pêssimas.
Estou supé excitada.
Adeus e dois beijos (o que me custa, mas vá lá...).
A
tua Cristina (por estes dias com o nome de guerra de Vanessa Idalina. Idalina
como homenagem a uma sopeira supé querida qu’há anos tivemos no palacete da
Lapa)
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