Lisboa, Tejo, Verão e toda a magia de um entardecer
Lisboa
cheira definitivamente a verão neste final de tarde em que as cerejas e os
morangos que a vendedora apregoa num claro timbre de Marcha Popular, sobrepõem o
vermelho sobre o ocre do casario e a promessa de azul Tejo que a Rua do Alecrim
sempre nos oferece.
O
triângulo dos poetas que define o verdadeiro coração de Lisboa, esse mágico
território entre os pedestais de Camões, Chiado e Pessoa parece ter sido tomado
por uma imensidão de turistas de olhar deslumbrado, romagem de todas as línguas,
preito feito de palavras à divina língua mater lusitana.
E
é de palavras, muitas, do falar sentido das emoções, que se tempera o “café”,
esse nome sempre dado ao encontro dos amigos, mesmo quando sobre a mesa, para
fazer companhia às palavras e ao sentir, há de tudo menos a negra solução
resultante de uma quente extracção de cafeína.
À
mesa: Virgílio Ferreira, um Santo António pintado de amarelo e… as nossas
vidas.
As
partilhas e as cumplicidades dos amigos matam sempre os relógios nesse fenómeno
que transforma as horas em tão breves instantes, o vertiginoso voar do tempo por
sobre a nossa vontade de o agarrar, de o fazer nosso… e lhe dar a bênção da
eternidade.
Nem
demos conta, mas entre o brilho do olhar que fez companhia ao abraço do olá e o
brilho da saudade que marca a despedida, passaram horas preenchidas com o doce encontro
e a confluência das almas, essa cimeira conjunta que congrega toda a mais pura verdade
do ser.
E
na despedida, o até sempre quer dizer tão-somente, para sempre irei voltar
aqui.
Já
corre uma ligeira e fresca brisa quando regresso ao Camões subindo o Chiado. Entre
montras que expõem o luxo e o caro, a mulher que apregoa e vende a fruta impera
por todo o espaço, e a sua banca já quase vazia denuncia que na companhia de
rubra fruta madura, para além da inevitável poesia, se foram daqui todos os
turistas.
Desço
a Rua do Alecrim rumo ao Cais do Sodré, buscando o Tejo.
E
o rio, fiel companheiro da cidade e da sua gente, acompanha-me pela Ribeira das
Naus e até ao Cais das Colunas e ao Terreiro do Paço, oferecendo-me o
privilégio de uma palete de raros tons de azul que indiciam que atrás de mim, o
pôr-do-sol em breve irá devolver a noite à grandeza de Lisboa.
Um
cacilheiro ponteia e borda a laranja esta imensidão e festa de azul.
Campo
das cebolas, a colina de Alfama, Santa Apolónia…
Estaciono
junto ao rio virado para o topo da colina e para a imponente cúpula de Santa
Engrácia, igreja e panteão dos heróis, o “santuário” da eterna Amália, a voz perfeita
criada por Deus para que em sonoro cantar de fado se transformassem as palavras
maiores nascidas dos poetas.
Não
resisto e faço uma foto. Quero guardar e partilhar este momento que me oferece
o entardecer.
A
noite pressente-se agora mais do que nunca e a mesa já está posta chama-nos para
um jantar de amigos que romperá o serão com palavras e infinitas gargalhadas.
Lisboa, cidade e cúmplice perfeita de todos os afectos, espaço de sonhos
ou apenas e só, o mote para momentos que sendo tão especiais fazem sentir a
vida a valer a pena.
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