Aparências e mentiras nos cartazes da ilusão
A
manhã da Invicta está definitivamente quente e alinhada com este verão que
atacou forte e não vale mesmo a pena procurar o fresco de uma brisa que nos
possa livrar desta espécie de sauna em que estamos metidos.
Ainda
a saborear o efeito inicial do ar condicionado do carro, que faz tanto barulho
na “afinação” rápida entre a temperatura existente e a ambicionada que mais parece
um motor avariado, paro numa passadeira para que uma senhora possa cruzar a rua.
Vistosa
no vestir e no calçar, e muito lenta no passo, quase que sou tentado a
acreditar que se trata de uma modelo que em acto de reivindicação tomou a via
pública e a converteu em passerelle.
Eu
bem sei que uma vez em Nova Iorque tive o Wim Wenders parado no seu
descapotável a dar-me passagem no que foi uma das grandes surpresas e emoções
da minha vida, mas daí converter as passadeiras em locais para operacionalizar desfiles
de moda na esperança de que um realizador de cinema, um agente de casting, ou
quiçá mesmo, um incauto idoso, nos possam adoptar e converter em estrelas, é
algo abusivo.
Seja
como for, a dita “vamp” ou Estrela Órfã
oferece-me a oportunidade de olhar atentamente para um cartaz de Luis Filipe
Menezes na sua campanha para a presidência da Câmara do Porto. E confirmo: não
tem o logótipo do seu partido.
Em
Oeiras, Moita Flores fez o mesmo.
E
assim, com a “Modelo” ou “Miss Aliados”, e o Menezes, tenho à minha frente e
num mesmo olhar, duas faces de uma farsa com a ilusão e a aparência como argumentos.
Haverá
poucas coisas que me tirarão do sério com a mesma eficácia dos ajustes feitos à
história de cada um nesse pecado novo-rico de fazer alinhar uma conta bancária
recentemente aumentada com um passado recheado de brasões.
Tal
como a Madredeus Pureza Teixeira da Cunha que o Herman José inventou para a Ana
Bola no Humor de Perdição, e que mais não era do que a Marisol, filha da
Maximiana e da Merdaleja, um terra nos antípodas de Cascais, há muita gente que
mata os verdadeiros avós, quantas vezes gente honesta e recomendável, pondo por
cima deles e das cómodas recentemente compradas em antiquários e leilões, um
antepassado virtual que combateu com D. Sebastião em Alcácer Quibir ou uma
amiga íntima da D. Leonor (a Tia Nônô, tá a ver?) que a ajudou a criar as
Misericórdias.
Conheço
uma pessoa que fez isto com tanto rigor que já se convenceu ele próprio da
mentira que criou e que inclusive se ofende quando o confrontamos com a sua
verdade.
Verdadeiramente
nobre é o assumir de uma herança de verdade e os Homens são o conjunto de
valores de carácter que neles se concretizam.
A
mentira é sempre uma ofensa ao interlocutor no sentido de que é uma manifesta
desvalorização da sua inteligência.
Mesmo
a mentira por omissão e mesmo esta mentira que de forma absolutamente perversa
já se assumiu que é legitima no jogo político.
Dizia-me
há dias um amigo ligado à política que os eleitores se esquecem rapidamente dos
erros dos políticos (deve ser deste principio que se alimenta o Sócrates) o que
associado às constantes mentiras de que somos vítimas mostra que um eleitor
para um político nada mais é do que um “burro” amnésico.
Interessante
esta perspectiva e também a de ver os políticos a matarem os partidos ao mesmo
tempo que afirmam querer enobrecer a presença destes no contexto do regime
democrático.
Bem
prega Frei Tomás…
Depois
do bamboleio à minha frente, a “Miss” lá passou finalmente e eu segui o meu
caminho.
Quem me dera que o Menezes não passe…
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