No
passado mais recente, uma das raras boas notícias que me chegou foi a nomeação
de D. Manuel Clemente como Patriarca de Lisboa.
Admiro-o
há muito como homem e como Pastor e creio muito sinceramente que a sua nomeação
representará uma enorme mais-valia para a Igreja Portuguesa. Tenho a legitima
expectativa de que será um verdadeiro passo em frente de encontro à própria
essência da Igreja e também da intervenção que a nível social se nos exige como
Católicos.
Na tarde
tórrida de domingo, sentei-me em frente ao televisor no fresco da minha sala de
Vila Viçosa para acompanhar a missa da entronização do novo Patriarca,
directamente da Igreja dos Jerónimos.
Apesar da
transmissão estar um pouco como o país, com problemas técnicos, ainda consegui
visionar o Portugal que literalmente se colocou aos pés de D. Manuel Clemente e
do seu cadeirão colocado no centro do altar mor, numa impensável e bipolar
exibição da mediocridade no interior de um templo mandado construir
por D. Manuel I em acção de graças pela glória de Portugal na descoberta do
caminho marítimo para a Índia.
A glória
passada versus as misérias do presente ou esse aparente irreversível fado de
Portugal.
Do lado
direito do Patriarca, a Monarquia representada pelos Duques de Bragança,
sentados num banco comum que obrigou a Duquesa a colocar os joelhos no chão
após a comunhão.
Do lado
esquerdo, a República com o presidente e a mulher sentados em cadeirões
especiais em lugar de destaque. E com almofadinhas.
Nos bancos desse mesmo lado, a Presidente do
Parlamento, o Primeiro-Ministro e alguns Ministros entre os quais o ex, futuro,
irrevogável demissionário ou actual Ministro Paulo Portas.
Apesar da
má transmissão ainda conseguimos ver Paulo Portas a bater no peito em sinal de
arrependimento pelos seus pecados, a paz selada num aperto de mão entre Passos
Coelho e Portas, o "ouvi-nos Senhor" do apelo de todos quando a
Oração dos Fiéis pediu lucidez e espirito de serviço para os políticos e o
beijo na boca dado pelo Presidente à sua Mulher que revelou o facto de ele ter
tanto jeito para a oscular assim como para comer Bolo-rei.
E lá ao
longe, a abanar-se na asfixia da tarde quente, o povo contribuinte...
A nação,
ao jeito de Piquenicão do Continente no Terreiro do Paço (desta vez sem Tony
Carreira) veio mostrar-se ao Patriarca, verdadeira exposição de miséria e da
hipocrisia.
Não sei o
que terá pensado D. Manuel Clemente perante tão triste país à sua frente, mas
suspeito que tenha ficado cansado só de pensar o hercúleo trabalho que o espera
para colocar aquela gente minimamente alinhada com os valores da fé, da paz, da
liberdade e da verdade.
Que Deus o ajude.
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