Nelson Mandela ou o nome da própria liberdade
Há
vários filmes que poderei classificar como “da minha vida” e um deles é sem
dúvida Cry Freedom (em Português, Grito de Liberdade) pelo impacto que
teve sobre o desenvolvimento da minha consciência e activação da revolta perante
uma das maiores injustiças do universo, o racismo.
Realizado
por Richard Attenborough e com uma magnífica canção de Peter Gabriel na sua
banda sonora, este filme narra a história de Steve Biko um dos maiores
activistas da resistência contra o apartheid na África do Sul, morto
barbaramente às mãos da polícia em 1977.
Quem
distingue e separa os Homens com base em características de natureza étnica, assim
como outras que podem passar pelo credo religioso, orientação sexual ou género,
mata a própria humanidade e amputa-a de uma das suas maiores riquezas, a
diversidade.
O
regime do apartheid foi uma das maiores vergonhas da história do Homem e na
mesma proporção Steve Biko ou Nelson Mandela foram heróis maiores porque
colocaram a vida ao dispor do alinhar da humanidade com um destino de justiça e
liberdade.
Os
verdadeiros heróis são assim, anulam-se para serem a semente da vitória do
colectivo e das causas em que acreditam.
Hoje
enquanto comia uma espécie de almoço, seguia as notícias pela televisão e acompanhei
a actualização do estado de saúde de Mandela que faz hoje 95 anos e agoniza num
hospital.
No
alinhamento das notícias, depois de Mandela surgiu o bebé dos príncipes ingleses.
Quando nascerá? Será menino ou menina? Que nome irá ter?
As
notícias a colocarem lado a lado, um herói da liberdade e uma criança que mesmo
antes de nascer já é uma estrela produzida pela banalidade oca das “histórias
da carochinha”.
Sou
um republicano convicto e não só, mas também por isso, acredito que os heróis
se constroem a si próprios com base no mérito e na genética do seu valor, não
surgindo jamais da hereditariedade de famílias sustentadas por privilégios e
cuja heroicidade dos antepassados já foi esmagada pelo tempo e pelos
comportamentos mundanos e bacocos das neo-princesinhas da Hola e da Cirurgia Plástica.
Mas
o mundo assenta tantas vezes nesta banalidade e está afinal tão longe de ser o
espaço de liberdade e justiça que Mandela merecia que construíssemos em sua
homenagem na hora da sua partida que parece estar iminente, um mundo que,
confesso, julguei possível quando vi em 1990 Mandela sair da prisão e ganhar
mais tarde o Nobel da Paz, tornando-se talvez no mais nobre e justo vencedor de
tal galardão.
Para
nós que acreditamos, continuar a lutar pela liberdade e pela justiça, segue
como imperativo para todos, mesmo que algumas vezes nos alcunhem de utópicos e
sonhadores.
A
esses, talvez possamos sempre responder e reclamar como fez hoje o meu sobrinho
João quando a minha mãe pela madrugada o convidou a satisfazer as suas
necessidades fisiológicas:
-
Avó assim não vale. Interrompeste-me um sonho bom.
Mandela
e a sua memória impõem-nos que sonhemos a liberdade e que nunca paremos de
lutar por esse sonho.
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