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A mostrar mensagens de outubro, 2013

O fado da Tininha

Nobre moça de Alvalade Fina e tia por nascença Grande mulher sem idade E alma de grande crença No Frutalmeidas almoça Toma a bica no Vá-vá Onde “às jezes” já faz troça Dos cromos que por lá há E andava assim repimpada Numa vidinha catita A Tininha bem descansada Quando o coração lhe apita Numa noite a colar cartazes Da cidadania por Lisboa De entre o grupo de rapazes Há um que lhe atira a “broa”: “Escuta lá ó Tininha Vem comigo para Alfama Mudemos a nossa vidinha Com garra invertamos a trama” E a Tininha lá partiu Atrás de um grande amor Em Alvalade nunca mais se viu Nem Tininha nem cantor E agora, de xaile a preceito Maquilhada com rigor Em tasca de grande respeito Canta o fado com ardor De tia a grande fadista E de Alvalade a Alfama A Tininha fez a nobre conquista Que só consegue quem ama

“Antes muerta que sencilla”

Chegar a Madrid e apanhar um taxista Castelhano (e digo Castelhano e não Espanhol porque a unidade política do país vizinho há muito que voou e a unidade cultural nunca existiu) que ao descobrir que somos Portugueses, nos diz que adora Portugal e o bacalhau, não é novidade nenhuma, com a malta a falar das mil maneiras de cozinhar o dito e ele a dizer que o “dourado” é o que mais gosta; mas perguntar pela crise e pela Troika, já encerra alguma inovação. Sentimos que o taxista puxa por nós para que comecemos a enunciar a longa lista de atrocidades que cometem sobre a lusa nação, mas rapidamente nos apercebemos que o faz para colher algum prazer, assegurando-se que Portugal está no seu sítio habitual: algures pior que a Espanha. Apetece-me mandá-lo a comer bacalhau ali para os lados de Aljubarrota recomendando-lhe que passe de caminho por uma padaria comandada há sete séculos por uma tal de D. Brites, que diga que vá da minha parte e que ela faça o favor de lhe aplicar a receita que ...

O impacto positivo de Bergoglio

A hora tardia do voo para Lisboa liberta um pouco da tarde para um almoço no Campo di Fiori , o Capuccino no Santo Eustáquio com as suas máquinas tapadas para esconder o segredo do melhor café do mundo, um gelado (sem açúcar) com vista para o Panteão e um brevíssimo olhar para a Fontana de Trevi e a Piazza di Spagna com a escadaria da Trinitá dei Monti que hoje não tem manequins a desfilar, mas tem turistas sentados, e manifestantes por uma causa de paz que não entendemos bem qual é. A Via Condoti , corredor que é “albergue” das marcas mais caras do mundo, só a vemos pejada de gente desde a esquina que de um lado tem a Prada e do outro, um popular vendedor de castanhas. As duas faces nas esquinas opostas de uma mesma rua ou a complementaridade que dá vida a Roma no casamento perfeito entre o povo e a nobreza dos impérios, os dos Homens, e os da fé que não há praça ou rua que não tenha um altar ou uma igreja. Já não há tempo para mais visitas e só desde o Táxi e a caminho do...

As malditas comadres

Em algumas ruas mais estreitas das nossas vilas e cidades, e porque as chaminés se constituíam muitas vezes como verdadeiras caixas de som daquelas que existem em palcos destinado à ópera, era frequente a sua utilização com vista à escuta de conversas que reproduziam a vida alheia. O método e os conteúdos escutados acabavam muitas vezes por conduzir a zaragatas que nunca iam para lá das ofensas verbais com mais ou menos puxões de cabelos à mistura. Conta-se que um dia e numa briga entre duas jovens casadoiras que estavam a ser apoiadas pelas respectivas mães que se constituíam como as suas fervorosas claques, uma das progenitoras terá gritado à sua cria num tom entre o conselho e a ordem: - Filha chama-lhe p... antes que ela te chame a ti. Num tempo em que não havia televisão estas brigas serviam inclusive para distrair e animar as ruas até porque os envolvidos, mais cedo ou mais tarde acabavam por reatar as suas normais e agradáveis relações continuando amigos. Ao ler o jor...

A viagem de uma tarde de Outono

Há nuvens muito carregadas que esperam a primeira oportunidade para se imolarem por sobre a cidade em bombas de chuva que batendo no pára-brisas quase abafam por completo qualquer outro som. E só a consulta do relógio me faz acreditar que esta escuridão ainda está longe de ser um sinal do entardecer. Em competição com o irrequieto bater da chuva, escuto a guitarra com a exclusiva e muito lusa marca de fado, em fusão perfeita com a voz de António Zambujo, que num dia assim, e quase que por magia, de Alentejo e pelo eco dolente da planície, me embalam neste "caminhar" anónimo pelas ruas de Lisboa. E bebo das palavras, a poesia, prefácio perfeito desse instante em que o teu olhar, que até é cúmplice do sul, me dará o norte nesse vagabundo errar pelas calçadas desenhadas a preto e branco da cidade irmã do Tejo. O olhar de um beijo. O olhar que eterniza um tão pequeno instante marcado no calendário das nossas vidas. Ao deixar-te, e no regresso às palavras cantadas por Z...

Insensibilidade e falta de senso

A hora, que sendo já manhã ainda não oferece à cidade quaisquer raios de sol, deixa no ar um indisfarçável toque de sonolência na gente que circula no aeroporto buscando as portas de embarque e também naqueles que nos atendem quando buscamos atestar de café. Numa das esplanadas pedimos dois cafés, uma sandes de queijo e uma sandes mista. Obtemos como resposta: - Sandes mistas não temos. Só tostas mistas. - E não pode vender-me uma sandes mista antes de ela ser torrada? - Não posso porque tal não tem preço e não está no sistema? - Mas se eu lhe pagar ao preço de uma tosta mista? O seu patrão até fica a ganhar pois não gasta a energia para a torrar. Olha para mim com um ar tão incrédulo como se eu lhe tivesse pedido para me cantar um fado da Amália. E responde: - Não posso porque os pedidos “lá para dentro” são feitos por computador e eu não tenho como passar esse código para a cozinha. Eu desisto. - Venham então duas sandes de queijo. Os computadores viram as su...

De portas fechadas

Na altura em que Abril abriu as portas e deixou entrar a liberdade existiram portas que simultaneamente se fecharam, e falo de uma forma objectiva e sem quaisquer conotações políticas. É que nos entrou a febre das discotecas e dos pub’s e desenvolveu-se em nós um especial estímulo libertador de adrenalina pelo facto de tocarmos uma campainha e alguém nos vir abrir a porta para que pudéssemos tomar um copo. Em Vila Viçosa, onde os cafés e as tascas eram de porta aberta, diria mesmo, escancarada, num impulso de modernidade, alguém se lembrou de comprar a tasca ao Sr. Ai-ai (o peso das alcunhas é tal que nem me recordo do efectivo nome da criatura), retirar o ramo de louro e o garrafão vazio que existiam sempre na fachada, varrer a serradura que se espalhava pelo piso em dias de chuva, trancando a porta e criando um pub que baptizou de “A colmeia”. Ficava na Rua das Vaqueiras e a sua inauguração teve ares de escândalo na terra. O que se passava dentro de semelhante “antro” pass...

A BBC fala…

Durante a segunda guerra mundial, um conflito muito dominado pela informação e contra-informação, a mensagem promocional associada à estação estatal britânica era: “A BBC fala e o mundo acredita”. Recordei-me desta frase há dias quando vi a entrevista de Passos Coelho na RTP e hoje voltei a recordar-me dela quando, mais por fidelidade ao Expresso do que interesse pela criatura em causa, dediquei parte da manhã à leitura da entrevista de José Sócrates, actividade que carrega em si algo de mórbido e masoquista, reconheço. Em ambos os casos, as afirmações e as respostas dos entrevistados passaram a ser a notícia suplantando as verdades reais e objectivas perante os factos. Para que “o mundo acredite”. No caso de Sócrates, a sua imagem de “estadista exemplar” é reforçada por uma crónica da Clara Ferreira Alves, mulher que há muito admiro e que escreve sempre o que primeiro leio da revista do Expresso, mas que desta vez se deixou enredar pelo “eixo da vulgaridade” e… esteve mal. ...

“Posso dizer uma quadra do António Aleixo?”

No dia a seguir à apresentação do Orçamento de Estado para 2014 que carrega mais uma fortíssima dose de austeridade e um novo aumento de impostos, com o Estado a arrecadar mais 646 milhões de Euros directamente dos meus bolsos e dos meus concidadãos, desloco-me para o trabalho na companhia das notícias veiculadas através do rádio. A esquerda discute a desistência da CGTP relativamente à manifestação a pé sobre a Ponte 25 de Abril no próximo sábado e a sua transformação numa excursão de autocarros com partida de Alcântara, num entretém verbal que se assemelha a um misto de Festa do Avante e Feira Popular, gentil entretém que o governo por certo agradecerá. Esta desadequação de discurso faz-me lembrar o “Casino Royal” do Herman José quando a propósito de nada um personagem irrompia numa cena que nada tinha a ver com ele e perguntava: - Posso dizer uma quadra do António Aleixo? E já que falamos em quadra, esta não é do Aleixo e não tem a marca da sua genialidade de mestre, mas é ...

Ser do campo

Em conversa outro dia com um conhecido, e porque Vila Viçosa é um tema mais do que recorrente nas minhas histórias, fui confrontado com uma afirmação que não sendo inédita me deixa sempre com uma certa irritação cutânea: - Eu não sei onde é Vila Viçosa e nunca lá fui. Vestindo-me eu de toda a boa vontade para começar a passar-lhe algumas coordenadas, quase nem pude abrir a boca porque fui desde logo atacado com nova bomba: - Sabes, nós os que nascemos em Lisboa não sentimos grande necessidade e estímulo para conhecer outras coisas. Uau! Não conhecesse eu Lisboetas inteligentes (felizmente, a grandíssima maioria) e poderia assumir que este “terreirodopacismo” e esta adoração umbilical seriam norma, o que de todo não é. Mas pelo menos encontrei aquele “gajo” que inspira os ódios contra a capital. Pus aquele sorriso amarelo que é ponto final, parágrafo, e calei-me, que isto de conversar com gente sem cérebro é um verdadeiro desperdício, de tempo e de palavras, não sem antes...

A casa dos segredos

Há alguns anos, algures pelo inicio dos anos noventa, deliciei-me com uma encenação de “A gaivota”, de Tchekhov, no Teatro da Graça, ali para as lados da Voz do Operário. A actriz Alexandra Lencastre encarnava então a Nina Mihailovna, uma das personagens centrais do enredo que o autor definiu como uma comédia e os críticos e o público rotularam de tragédia, o que não é de todo usual. Recordo-me da excelente performance da actriz. Por esses anos de noventa, Portugal rompia com o monopólio da RTP e aprovava dois canais privados de televisão. Durante o processo de escolha destes dois canais, para o qual se apresentaram três projectos, a Igreja Católica, à boleia do sucesso da Rádio Renascença, reclamava que uma das licenças lhe fosse atribuída, o que veio a concretizar-se, e a TVI, canal de inspiração cristã, emparelhou com a SIC nestas novas estações com marca não estatal. Ontem ao serão, e durante um processo desesperado de zapping, daquele que até faz deitar fumo ao comando, ju...

A Casa Portuguesa

Uma semana com o privilégio dos pais aqui em casa é uma semana de serões em família onde a televisão é dispensada para que emerja a conversa inevitavelmente sermos conduzidos para as memórias do Portugal dos anos quarenta e cinquenta. Por estas décadas, a minha mãe aprendia a profissão de costureira em casa da Mestra Hermenegilda, e com a outra meia dúzia de raparigas que a acompanhavam no desenhar de um círculo feito de cadeiras baixas com assento de buínho, aprendia a arte dos alinhavos e dos chuleios, parando de vez em quando para, todas juntas e em quase segredo, lerem os sonetos da conterrânea Florbela Espanca, que ousavam falar de prazer, de amor e que por isso tinham um enorme gosto a proibido pecado. O meu pai aprendia a arte de barbeiro na companhia do padrinho e trabalhava aos sábados até para lá da meia-noite, possibilitando que os clientes que saiam do trabalho quando o sol se punha, pudessem ir fazer a barba antes de chegarem a casa e tomarem o banho semanal que era i...

Eu, um vagabundo

A manhã de Lisboa cheira a um irreverente verão pela bênção do sol rebelde e mouro que insiste por estes dias em contrariar o Outono que o calendário já trouxe há semanas. O Rossio fervilha de turistas que em pequenos grupos caminham em direcção às Portas de Santo Antão e que inevitavelmente se dispõem em semi-circulo e prestam vassalagem às pequenas montras que ladeiam a Ginjinha do Eduardinho. Vejo-os `através de uma das janelas do Palácio da Independência e estou na sala baptizada com nome do poeta dos meus poetas: Fernando Pessoa. Já estão no pátio do palácio e entrarão de aqui a pouco na sala, os homens e as mulheres que vagueiam errantes pela cidade e a quem hoje eu e a Joana nos quisemos juntar. São curtíssimos os minutos até ao momento em que estão sentados em frente a nós para que a pretexto de uma conversa sobre saúde brindemos com afectos na festa do encontro de todos. Vagabundos, pessoas sem-abrigo, toxicodependentes, alcoólicos? Pouco contam aqui os detalhes c...

Zumba 0 – GAP 1

No inicio dos anos noventa, na altura em que eu trabalhei numa farmácia, Zumba era a marca comercial de um produto destinado a melhorar a performance sexual masculina. Rivalizava com o HiperSex, produto que eu aconselhava mais vezes porque sempre tinha um nome que oferecia mais credibilidade que o concorrente, inevitavelmente associado ao “Zumba na Caneca” da inesquecível “Menina do Alto da Serra”, a Tonicha. Recentemente fiquei a saber que Zumba é também uma especialidade desportiva que entusiasma muitas das minhas amigas na sua luta diária contra a celulite, a obesidade e os seus derivados, alguns de natureza psicossomática; e na recuperação da boa forma. E digo amigas porque na turma que frequentam não existe nenhum homem, apesar dos árduos esforços para conseguirem que tal aconteça. Ontem convidaram-me para entrar na “dança” mas eu recusei como medida profiláctica de situações do género: - Olá Joaquim, de onde vens? - Olá, venho do Zumba. Não me soa bem. É um pouco ao ...

Os contrastes no velório da dignidade

No dia em que o número de mortos resgatados do mar de Lampedusa, na sequência do naufrágio da passada semana, ultrapassa já as duas centenas, uma amiga recebeu o conselho de uma senhora africana no sentido de se deslocar a Paris, aos Campos Elíseos e à loja da Louis Vuitton, para comprar adereços para a sua cadela de pequeníssimo porte, uma vez que a referida loja tem uma secção especializada em adornos para animais de estimação. A cliente Louis Vuitton aterrará por certo centenas de vezes nos aeroportos de Paris em viagem iniciada no continente de que é natural, a mesma origem das pessoas que se amontoaram numa embarcação insegura em busca da ilha mediterrânica do arquipélago das Pelágias, Lampedusa, em termos geográficos, parte do território africano, mas politicamente o ponto mais a sul da Europa. Uma ilha cujo nome ironicamente nos transpõe para a ideia de lâmpada, de luz. A “madame” desembarcará vestindo padrões de leopardo ou tigre em roupas contendo as etiquetas de grandes ...

Tomate, pingo e espargos sob uma coroa de poejo

Ontem à saída da missa das onze e meia em Vila Viçosa perguntei a uma pequeníssima amiga que foi há pouco para a Escola Preparatória frequentar o quinto ano de escolaridade, do que é que gostava mais nesta nova etapa da sua vida escolar. Ela não hesitou na resposta: dos cacifos. Que inveja! No final dos nos setenta, inicio dos oitenta, a juntar ao Passeio dos Alegres, as nossas tardes televisivas de fim-de-semana continham sempre um episódio da série Fame , e para além dos bailados e das peças do Leroy e companhia, que inveja daqueles cacifos no corredor personalizados com fotos e mensagens, refúgio para os intervalos menos interessantes e para aqueles em que emergia algum terrível desgosto de amor. Mas já não sou do tempo das escolas preparatórias ou secundárias terem cacifo. A minha Escola Secundária, instalada em versão provisória nas cavalariças do Paço Ducal tinha manjedouras, o que não é de todo a mesma coisa, mas acabava por ser um bom local para nos sentarmos a conve...

Uma viagem na República Portuguesa

Há uma intensa neblina sobre o Douro quando de manhã chego à Alfândega ao mesmo tempo de uma “multidão” de pescadores que munidos das suas canas se perfilam alinhados gritando uns aos outros promessas de sucesso na sua actividade matinal. Quando desço à hora de almoço já não estão nos seus postos ficando eu sem saber se desistiram ou se, tal como eu, foram engolidos pelos nabos, couves e garrafas de vinho do Continente em Feira de Sabores no majestoso edifício do Porto. Anuncia-se o Tony Carreira e por isso já há grades metálicas à frente das bilheteiras que vendem pulseiras cor de laranja, em tom fluorescente, ao jeito do “tudo incluído” nas estâncias de férias. E a Alfândega ganhou ares de Pavilhão Atlântico. Caminho ao longo do rio na companhia do meu querido amigo e colega Paulo Chinopa e acabamos por nos sentar numa mesa que espreita o Douro. Hoje tivemos sorte, ao contrário da noite de ontem em que só à segunda tentativa conseguimos jantar depois de numa primeira nos terem...

Lutas fratricidas em tempos de “laboráveis cincos de Outubro”

É interessante constatar que na vida, e em algumas circunstâncias muito próprias, as situações de vitória e de derrota, que parecem opor-se diametralmente, acabam por ter exactamente as mesmas consequências e motivar o mesmo tipo de comportamentos. Estas situações acontecem habitualmente em “jogos” disputados por equipas que não o são verdadeiramente pois no seu seio emergem as individualidades de cada “jogador”, que mesmo quando têm que marcar golos numa única baliza, têm como prioridade serem eles a marcá-los para poderem ganhar sempre o título de “homem do jogo”, o tal da melhor exibição. Depois das recentes eleições autárquicas não estranhei o ambiente tenso no interior do PSD, a caça às bruxas e o aproveitar do momento de fragilidade de quem detém o poder. É normal que assim aconteça perante as derrotas. Mas, e no interior do PS? De dentro do grande vencedor das autárquicas, António Costa, o homem que obteve melhor resultado em Lisboa do que o partido no seu todo à escala...

Gaiolas muito pouco douradas

É Romeno, o bem-parecido motorista de táxi que entre vivendas rodeadas por jardins, me transporta pelos estreitos caminhos da velha Inglaterra até ao aeroporto de Gatwick onde vou apanhar o avião para regressar a Portugal. A conversa leva-nos pelo futebol, pela miragem que a Comunidade Económica Europeia / União Europeia constituiu para os nossos povos após as mortes de Oliveira Salazar e Nicolae Ceausescu (tão longe e afinal tão próximos), a desilusão após a adesão, a morte anunciada do Euro e a constatação do facto de os tratados apenas expressarem fictícias uniões políticas numa Europa onde persistem as desigualdades e onde continua a existir o conjunto dos povos que servem e dos povos que são servidos, ou se quiserem, os pobres e os ricos, respectivamente. A união permitiu que os “criados” se sentem à mesa com os “senhores” mas na hora da festa só os últimos se divertem porque os outros vão para a cozinha tratar da louça. A conduzir um Mercedes, à esquerda como mandam as reg...