O impacto positivo de Bergoglio
A
hora tardia do voo para Lisboa liberta um pouco da tarde para um almoço no Campo di Fiori, o Capuccino no Santo Eustáquio com as suas máquinas tapadas para
esconder o segredo do melhor café do mundo, um gelado (sem açúcar) com vista
para o Panteão e um brevíssimo olhar para a Fontana
de Trevi e a Piazza di Spagna com
a escadaria da Trinitá dei Monti que
hoje não tem manequins a desfilar, mas tem turistas sentados, e manifestantes
por uma causa de paz que não entendemos bem qual é.
A
Via Condoti, corredor que é “albergue”
das marcas mais caras do mundo, só a vemos pejada de gente desde a esquina que
de um lado tem a Prada e do outro, um
popular vendedor de castanhas.
As
duas faces nas esquinas opostas de uma mesma rua ou a complementaridade que dá
vida a Roma no casamento perfeito entre o povo e a nobreza dos impérios, os dos
Homens, e os da fé que não há praça ou rua que não tenha um altar ou uma igreja.
Já
não há tempo para mais visitas e só desde o Táxi e a caminho do aeroporto
conseguimos olhar para o Capitólio e, muito ao longe, para o Fórum e o Coliseu.
Por
momentos, sinto saudades do melhor passeio que dei em Roma, em Agosto de 2011
na companhia dos meus pais quando num fim de tarde e em passeio pela Praça de
São Pedro então quase deserta, saboreámos o gosto de um momento único e feliz
de uma "viagem" em família que tanto tem valido a pena.
Um
espaço eterno a convidar-nos para os inevitáveis balanços de toda uma vida.
Agora
é a primeira vez que estou em Roma desde a eleição do Papa Francisco e dou
conta que o merchandising rapidamente
alinhou calendários, quadros e até chupa-chupas com a cara do "Novo
Pedro".
Olhando
em volta reparo que para além da mudança de rosto do Papa, há mudanças no rosto
da gente e mais descontracção nos rostos da multidão que vai para São Pedro ou
então que já veio de lá.
E
é impossível que veja tal mudança, as pessoas são as mesmas e iguais às que
tantas vezes vi em Roma.
Apercebo-me
então que a mudança está efectivamente em mim porque de uma forma que não sei
se é muito ou pouco racional, alimentei essa ideia de descontracção a partir do
rosto do Papa Bergoglio impresso em todo o lado, em oposição à imagem de antes,
a de alguma inacessibilidade do Papa Ratzinger.
Pode
ser percepção, admito que o seja, mas prefiro acreditar que em seis meses
apenas, a postura, os gestos e as palavras do Papa Francisco aproximaram-no
mais de todos os Homens, aproximando a Igreja de todos esses Homens.
Se
isso se confirmar ficarei muito feliz e, perdoem-me a imodéstia e essa estranha
contradição do orgulho pela fé que professo.
Estou
certo que Jesus Cristo também preferiria o homem das castanhas em detrimento
dos "vendilhões" da Prada.
Breve
chego ao avião e que bem sabe ler "Lisboa" nos mostradores da porta
de embarque.
Fala-se
Português na fila para o avião onde o mais apetrechado de marcas de roupa é um
frade franciscano que quase todos conhecemos.
Há
ainda muito para afinar na escolha dos caminhos mas estou certo que Francisco “incendiará”
a Igreja.
É
longo o caminho.
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