As malditas comadres
Em
algumas ruas mais estreitas das nossas vilas e cidades, e porque as chaminés se
constituíam muitas vezes como verdadeiras caixas de som daquelas que existem em
palcos destinado à ópera, era frequente a sua utilização com vista à escuta de
conversas que reproduziam a vida alheia.
O
método e os conteúdos escutados acabavam muitas vezes por conduzir a zaragatas
que nunca iam para lá das ofensas verbais com mais ou menos puxões de cabelos à
mistura.
Conta-se
que um dia e numa briga entre duas jovens casadoiras que estavam a ser apoiadas
pelas respectivas mães que se constituíam como as suas fervorosas claques, uma
das progenitoras terá gritado à sua cria num tom entre o conselho e a ordem:
-
Filha chama-lhe p... antes que ela te chame a ti.
Num
tempo em que não havia televisão estas brigas serviam inclusive para distrair e
animar as ruas até porque os envolvidos, mais cedo ou mais tarde acabavam por
reatar as suas normais e agradáveis relações continuando amigos.
Ao ler o jornal
e depois de constatar que Catroga acha que Sócrates deve ser julgado, da mesma
forma que Soares acha que Cavaco deve ser julgado, e depois de o PS ter dito
que andava a ser escutado e o Presidente ter dito que também andava a ser
escutado...
E depois de
lido que Basílio Horta considera que um orçamento de Estado feito por Gaspar
carregaria em si uma maior sensibilidade social e que Sócrates terá convidado
Passos Coelho para vice-primeiro ministro do seu segundo governo, o minoritário...
Só
me poderia mesmo ter recordado das mulheres das ruas estreitas e dos becos, com
todo o respeito por elas que de todo merecem o desprestígio de tal comparação.
As
brigas parecem ser aconselhadas pelo "chama-lhe ladrão antes que ele te
chame a ti" e no final, mais cedo ou mais tarde, acaba tudo novamente aos
beijinhos.
Bem
me parece a mim que todos se conhecem demasiado bem e que a diferença está
apenas no tom do papel que embrulha a comum desonestidade que nos oferecem
diariamente.
De
qualquer forma e como medida preventiva, não vão as comadres incendiar os ódios
e descobrir mais verdades, e não vá a justiça lembrar-se de começar a funcionar,
não parece de todo má ideia pensar no alargamento da prisão da Carregueira,
esse autêntico jazigo do nosso regime e dos pecados do novo-riquismo que
fabricou os homens de sucesso.
Alargamento…
e já agora a montagem de um recinto anexo no exterior para colocação de
roulottes de comes e bebes pois há por aí muitas eleições à porta e a malta
merece comemorar as vitórias com o mínimo de “dignidade”.
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