Mas até quando?
Entre
actuais e antigos colegas, somos três à conversa na mesa do almoço, naquela
natural satisfação da curiosidade acerca dos últimos tempos e de como estamos e
de como se encontram aqueles de quem mais gostamos.
O
meu ex-colega reformou-se há pouco depois de 34 anos de descontos e de um
período de três anos a receber subsídio de desemprego, ainda está longe dos 60
anos mas ainda mais longe de qualquer emprego, e por isso fê-lo com uma
penalização que entre taxas e sobretaxas somou 42%.
Tem
dois filhos casados, um deles vive em Portugal e está desempregado, o outro
emigrou com a mulher para Moçambique e vive as agruras de quem está num país e numa
realidade cultural nos antípodas da nossa.
À
reforma teve então de aplicar uma característica extra, a elasticidade,
acudindo à vida dos filhos que já têm mais de 30 anos e estão licenciados há
mais de 5.
No
restaurante onde nos encontramos, as televisões passam imagens na Ministra das
Finanças, e em rodapé a grande conclusão da sua audição no parlamento no âmbito
da Comissão de Inquérito ao BES: há uma forte possibilidade de os cidadãos
terem de suportar financeiramente esta “aventura”.
Já
há muito o sabíamos mas sempre nos haviam dito que não seria assim, cumprindo
mais um episódio triste da promiscuidade entre a política e a mentira; tão
tristemente aceite.
Os
bancos, esses nossos amigos tão generosos que nos oferecem um juro fantástico
quando lhes “emprestamos” dinheiro, quase igual ao que nos cobram quando a
situação se inverte; os bancos tão bem geridos por gente séria e de famílias
respeitadas…
Os
bancos são hoje o núcleo de entre as prioridades do país. Mesmo que, como
acontece, se assentem despudoradamente os alicerces da finança sobre a agonia do
povo.
Saberá
Deus, as campanhas eleitorais e os imensos favores, o porquê de tal acontecer.
O
futuro está hipotecado e, bons políticos são algo que parece que continuará a
não existir: António José Seguro “deixa” a política e vai ministrar a
disciplina de Ciência Política na UAL…
O
meu almoço termina com o meu colega a mostrar-nos as fotografias do neto e do
encanto que é sentir-se infinitamente amado, sobretudo naqueles instantes em
que ele lhe sorri e lhe estende a mão. Confessa-nos:
-
Vocês não imaginam como é bom.
Imaginamos
sim e até nos comovemos com ele.
Os
afectos não pagam impostos (ainda) e vão compensando enormemente outras dores e
desconfortos que a alma carrega.
Mas até quando?
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