Zé Artur
Recordo-me
deste dia há 42 anos.
Eu
estava a cinco meses de cumprir 5 anos de idade.
O
berço de madeira que viu renovada a sua pintura em tons de amarelo e que
recebeu novos bonecos decalcáveis, tinha sido colocado ao lado da cama dos
nossos pais, havia grande agitação, alegria e um incessante esforço para me
retirarem do centro de operações, o que me causava alguns transtorno pois esta
minha crónica “curiosidade” já vem de muito longe.
Depois,
finalmente, apresentaram-nos e achei estranho, seres tu, em vez da tal mana, a
“Maria Bonita” que se chamaria Elisa, que, muito antes da Era das Ecografias,
andaram meses a dizer-me que iria ter.
Não
terei entendido então, mas hoje sei que terias mesmo de ser tu quando passámos
a ser quatro à mesa e em tudo, porque sem ti, a minha vida jamais teria este toque
de perfeição que Deus lhe tem oferecido, e pela qual serei sempre o mais grato
dos Homens.
Quando
brincávamos aos índios colocando os lençóis presos nos ferros da cama, quando
para a procissão te vestiram de Anjinho e a mim de Santo António, e tu te
entretiveste todo o caminho a rasgar as imagens de santos que estavam guardados
no livro que o meu “personagem” exigia, quando falávamos até às duas da manhã,
deitados nas nossas camas iguais e paralelas, às vezes ao som de um ou outro single que o resto da mesada tinha dado
para comprar em Lisboa, quando “metemos” a avó Dade e a tia Quina no carro para
nos juntarmos à caravana que celebrava os 6-3 do nosso Benfica em Alvalade,
quando vivemos juntos e eu cozinhava e tu lavavas a louça…
Apenas
exteriorizávamos em breves e banais gestos de elevadíssima cumplicidade, o amor
indestrutível que nos unirá sempre, siameses de coração mas com
individualidades muito próprias que o respeito e o próprio amor jamais
afastarão.
E
depois, tendo-te por perto e podendo partilhar tudo, até as coisas mais
complicadas ficam a parecer demasiado simples. É o conforto das verdadeiras
cumplicidades, as naturais, as oferecidas pelo coração.
Esse
amor inspirado na “casa” que os nossos pais nos ofereceram para crescer e onde
tantos, tantas vezes, chegaram com a sua simplicidade, para nos ensinarem a ser
maiores, motivando-nos a rasgar o testamento tão pouco ambicioso e banal que a
vida parecia ter destinado para nós.
E
por ti e pelos frutos desse mesmo amor, agora somos sete, e corre sangue novo,
à mesa e em tudo, no tudo das nossas vidas.
Vidas
inseparáveis.
Mano,
parabéns.
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