À mesa com a minha geração
O
hotel Solar dos Mascarenhas abriu ontem o restaurante exclusivamente para nós,
estendendo-nos uma mesa onde muito comodamente nos sentámos os dezanove.
Depois
dos inevitáveis beijos e abraços iniciais, a conversa fluiu solta por muitos
temas:
-
“Quantos anos te faltam…” ou “Há quantos anos fizeste os cinquenta anos?”. Não
há dúvidas, entre uns e outros e numa boa média, estava ali à mesa a face
humana de meio século de história de Vila Viçosa. E quanto charme…
-
“Vamos ver quem consegue rir mais”. E é sempre difícil eleger o vencedor.
Conhecemos demasiado bem os pontos fracos uns dos outros e temos décadas de
histórias e cumplicidades tantas vezes no território das asneiras. E então
quando puxámos pelas fotos da juventude…
-
“O rosário das memórias”. São tantas e tão boas que nunca nos esquecemos de as
revisitar. E aqueles teatros que nós fazíamos na catequese por alturas do
Natal?
-
“Os nossos filhos”. Eu não os tenho, mas contas por alto e daquela mesa já
nasceram dezoito rebentos, o que garante uma continuidade destes afectos e
desta amizade. E os nossos sonhos projectam-se nessa geração que vem a seguir.
-
“Por onde tens andado”. É que não somos de estar quietos e entre vida e
profissão procuramos sempre ser melhores e ir mais longe. E o que todos gostamos
de viajar…
-
“Já compraste uma Bimby?”. E o impacto desta questão é quase uma guerra
semelhante à dos adeptos da Madalena e da Simone na época do nacional cançonetismo.
E os adeptos do “sim” fazem tudo na Bimby, até rissóis. E então e as sopas?
-
“Boletim Clínico”. A dobragem dos quarenta é terrível e já conseguimos
partilhar coisas como a Hipertensão Arterial, a Hipercolesterolemia, a
Diabetes, o Reumatismo, etc. Mas até das doenças falamos a rir e até admitimos
que de aqui a vinte anos, quando nos juntarmos, em vez de falar das vantagens
da Bimby, por certo enalteceremos as vantagens do Lindor Ausonia ou do Corega
para as dentaduras…
- “What happened to João Paulo Silva”. Era o vigésimo e faltou, daí esta menção ao estilo de
vingança.
E
falámos mais por entre o Creme de Abóbora, a Empada de Caça e o Sericá com ou
sem ameixa…
Dos
trabalhos, dos cortes no Orçamento de Estado, da política, das pinturas e das
escritas, dos quadros da Tina, das rifas dos escuteiros que todos tivemos de
comprar, de mortes e desgraças que ocorreram ao longo do ano, dos salmos que
havia para cantar, dos bolos com ovos-moles feitos em Águeda, dos
anti-oxidantes, dos cortes de cabelo, das gracinhas feitas pelos filhos e
sobrinhos, das paixões e dos amores, das compras em Badajoz, dos que não
estavam ali presentes e que gostássemos que estivessem, de petiscos, do vinho,
da boa vida, dos passeios que temos de organizar para os próximos
fins-de-semana…
E
houve momentos em que falámos pouco e em que apenas saboreámos o prazer de
estar juntos porque tudo o que se diz e o que se sente são tão-só detalhes da
amizade eterna que nos une.
Elas,
as “Flores da Callípole”, lindas de morrer e com cores de cabelo que nada têm
que ver com o tom com que nasceram, e nós, os charmosos e bravos “Don Juan’s do
Carrascal” (da senda dos heróis da quarta dinastia), saboreando um presente
fantástico e não descurando nunca o futuro que sem qualquer um de nós não teria
a mesma graça.
Para
o ano cá estaremos!
Que bom, não é?
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