Um conto de Natal
Era
uma vez um homem que não sabia o que era o Natal.
A
sorte não tinha sido definitivamente sua mãe, e madrasta, há muito o deixara sozinho
num monte de onde avistava a planície e a vila mas onde nunca ninguém chegava
para conversar com ele.
Triste,
habituara-se a viver assim no convívio com os seus próprios pensamentos, muito
mais do que com as palavras, nada fazendo para mudar esta situação
E
mais triste se sentia por alturas de Dezembro quando as luzes da vila
duplicavam o seu brilho na noite. Afinal, ele não sabia o que era o Natal.
Enquanto
dormia a sono solto numa noite de quase Natal, apareceu-lhe em sonhos um anjo
que lhe disse:
-
Vou ensinar-te o que é o Natal mas para isso tens de cumprir três missões.
Aceitas?
E
o homem triste conseguiu sorrir quando sem qualquer receio disse logo que sim.
Disse-lhe
então o anjo:
-
A primeira missão é muito simples. Amanhã é véspera de Natal e quando fores à
vila para comprar o pão e os restantes alimentos, vais ter de fazer o caminho a
assobiar e vais ter de responder com um sorriso e cumprimentar com um “bom dia”
a todos os que te saudarem.
Pareceu-lhe
fácil.
-
Na segunda missão vais ter de apertar a mão no cumprimento e na despedida ao
homem da mercearia.
Pareceu-lhe
ainda mais fácil.
-
E na terceira vais comprar uma caixa de chocolates que entregarás mais tarde ao
vizinho do monte ao lado do teu dizendo-lhe que são para os seus filhos
pequenos.
Também
não lhe pareceu difícil.
-
Aceitas?
E
o homem disse logo que sim, e o anjo prometeu voltar no dia seguinte para lhe
dizer finalmente o que era o Natal.
Quando
se despertou no dia a seguir, o homem começou logo a ensaiar o assobio e foi
vê-lo com afinco a cumprir todas as missões que o anjo lhe tinha pedido e ele
de forma tão entusiasmada tinha aceitado.
Sentiu-se
surpreendentemente bem nas suas tarefas e nesta onda de simpatia, sorrisos e
música de assobio, até conseguiu fazer uma festa ao cão do vizinho que sempre
tratava com antipatia sempre que ele se aproximava para o saudar algures no seu
percurso de e para a vila.
Depois
de ter chegado a casa, desejou ansiosamente que fosse noite para se deitar e
para que o anjo pudesse finalmente voltar e dizer-lhe o que era o Natal.
Foi
a correr para a cama e deixou-se adormecer embalado por essa esperança.
Mas
nada.
Ao
acordar pelo canto do galo que morava no galinheiro mais próximo, ficou triste
quando se apercebeu que o anjo faltara ao prometido e não tinha vindo ter com
ele.
E
ele que tinha cumprido as suas missões com tanto afinco continuava sem saber o
que era o Natal.
Nesta
tristeza estava quando já pelo meio da manhã lhe bateram à porta do monte.
Foi
abrir e reparou com os dois filhos do vizinho do monte ao lado que lhe sorriam
e lhe ofereceram um prato enorme cheio de filhós das melhores e mais vistosas
que ele alguma vez tinha visto.
Em
nome dos pais convidaram-no para almoçar nesse dia em casa deles.
E
o homem foi. E lá, ao redor da lareira onde as palavras substituíram e
dominaram os seus pensamentos, aprendeu finalmente o que era o Natal.
Afinal
de contas, os anjos nunca faltam ao prometido e chegam mais vezes batendo à
porta do que pelos sonhos.
E
o Natal…
É receber de volta o afecto que sabemos dar.
Muito bonito.
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