A estirpe e as virtudes
Quase sempre sentado no Estádio da Luz, não tenho a percepção de como Lisboa fica tão vazia à hora em que joga o Benfica. Do Conde Redondo e até Alcântara, é meu e só meu, o asfalto que cruza o Rato, a Estrela e a Infante Santo, como se a cidade tivesse sido desenhada só para mim e como se as luzes que “incendeiam” a Basílica estivessem ali apenas para me sorrir no instante em que eu passar. Não é fácil levar-me a “trair” o Benfica, ainda por cima com um cartão no bolso que me daria livre acesso ao meu confortável lugar e daí aos golos do Gaitan e companhia. Levo comigo no carro o “móbil do crime”: eu e mais quatro amigos que entre o Castelhano, o Português e o inevitável “Portulhol” ou “Espanholês”, damos integralmente corpo à ideia de uma identidade ibérica que vagueia pelo mundo como hoje pelo asfalto só nosso de Lisboa, qual “Jangada de Pedra” de José Saramago. O silêncio morreu no instante em que nos abraçámos na recepção do hotel e ficou definitivamente enterrado no moment...