MARIA JOSÉ
Conhecemo-nos
há tanto tempo quanto os anos que chegam até hoje desde os dias quentes em que
a sede te impunha que gentilmente pedisses um “copo de aba”.
Andávamos
então no Jardim-Escola da Irmã Celeste, comíamos as aparas das hóstias que as
Irmãs preparavam para a missa, cantávamos “as mulheres do monte quando vão à
vila…” fazendo todos os gestos da “quebra dos ovos e da fuga das galinhas”; e
acabávamos sempre a tarde a escorregar de forma radical nos papelões guardados
numa velha arrecadação que existia no lado direito do teu quintal, esse espaço
mágico que tinha também uns muros que anos mais tarde foram adaptados às
paralelas assimétricas da Nadia Comaneci, sempre que a imitávamos no brilho do
seu “10” nos Jogos Olímpicos de 1976, em Montreal.
Desde
então fomos crescendo, mas sempre uns mais do que outros, que a ti sempre te
valeu a grande generosidade da tua fantástica e saudosa mãe que nunca deixava de
repetir:
-
A Zinha agora deu um pulinho.
Alturas
e centímetros à parte, crescíamos mesmo muito e todos juntos, sempre ao ritmo
das cumplicidades em tudo e até nas loucuras e no non-sense de adolescentes, dos sonhos sem travões que são típicos
de quem é novo, das conversas que falavam de tantas descobertas, da partilha
profunda de nós e das nossas vidas, da fé e da força única que ela nos dá, das
tuas inesquecíveis gargalhadas que atingiam o auge quando alguém te fazia
cócegas, e até dos tons roubados ao arco-íris do teu mais famoso casaco
comprado um dia na loja dos Porfírios em Lisboa e que faziam de ti a mais
moderna de todas quando atravessávamos o Terreiro do Paço a caminho das aulas
no velho liceu à Porta dos Nós.
Com
a Tina Cravo, o Paulo Ratado, a Zé Ramalho, a Céu Martins, a Guida Paulino… enquanto
comíamos cachorros “fabricados” numa torradeira do bar que tinha para nós uma
indisfarçável marca de modernidade porque fazia mover as metades dos papo-secos,
ou então enquanto passeávamos em grupo pela Tapada Real sentindo o cheiro e o
privilégio de todas as estações; escrevemos juntos e informalmente um firme
compromisso de futuro: iríamos ser felizes.
E
somos felizes, não traindo nunca e nem apenas sequer por um segundo, esse
destino especial temperado de amor que, destemidos, quisemos oferecer a nós
próprios.
Eu
sei, têm existido muitos dias em que nada parece fácil e em que os ombros
parecem levar com o peso incalculável de muita dor. Mas, as vidas previsíveis,
simples e banais são apenas para as pessoas que não são tão especiais assim
como tu és.
Só
as pessoas especiais conseguem ter vidas um pouco mais difíceis e também
especiais.
E
também sei, seremos sempre felizes, mesmo não dando pelo tempo que passou e nem
nos parecendo razoável que estejas hoje a cumprir o 48º aniversário, quatro
meses antes de eu cumprir o meu; tal a força com que as cumplicidades, os
sonhos, a fé e até as tuas gargalhadas, estão coladas a nós, vivas e presentes
em tantos momentos e tantas conversas com que ainda hoje celebramos uma eterna
e profunda amizade.
Os
momentos em que pela amizade atestamos de coragem essa garra de nunca deixar de
ser feliz.
E
tu, por teu mérito exclusivo, insistes em tornar proféticas as palavras da tua
mãe, pulando por sobre toda a dor para seres grande como és, uma das minhas
maiores amigas; maior em carácter e na força da própria amizade.
Os
amigos são sempre uma parte muito bonita dos nossos dias e tu és uma das mais
fantásticas componentes das vidas dos que não sabemos viver sem ti.
Eu
sou apenas um deles.
Agora
já entendes porque és insubstituível na Sessão de Lançamento em Vila Viçosa?
É
que mesmo que se te seque a boca e fiques sem voz, eu preciso de ti para que as
minhas palavras, mesmo que soem roucas, fiquem muito maiores.
Zinha,
parabéns!
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