Diário de bordo
Os dois cálices de Porto desentorpecem e soltam as confidências, mas com muito pouco de novidade nas palavras, habituados que estamos os dois à linguagem dos olhares e dos gestos, os infalíveis fiéis à verdade incapazes de respeitarem quaisquer silêncios que lhes sejam sugeridos. Eu amo-te, e o meu braço que te envolve inquieto desde o Chiado e a mão que te acaricia a cada minuto às vezes incompleto, não se têm cansado de o dizer. Porque o amor que semeias em mim transborda, suplanta todos os poros e todas as expressões; sinto-o aqui nesta mesa onde estamos frente-a-frente à sombra de uma casa de Lisboa. E entre nós, o néctar fresco da cor do ouro vai-se sumindo aos poucos nos tragos que enfeitam as palavras que falam de nós. Vejo-te perfeito e faço-te uma foto. Como se a minha memória pudesse alguma vez trair a eternidade guardada no teu olhar que abençoa este instante? Depois voltamos a caminhar... Não tardamos a sentar o nosso abraço à proa da cidade, olhando o rio e...