Os apaixonados escrevem cartas de amor nos instantes do entardecer
Meu amor
Parado à esquina do entardecer de um dia
qualquer, que muito pouco importa qual por ser eterno o sentir que as palavras
ditam, escrevo-te feliz uma carta de amor.
Talvez resulte tão patética quanto todas as
missivas dos enamorados, barroca no excessivo floreado a ouro de quem se sente
num trono imenso; quiçá fique até a dever pouco à criatividade.
Mas hoje... quando ao longe vejo o céu ateado
pelo sol em cor de fogo, o mesmo sol que se vai apagando aos poucos num oceano
que perde o azul em absoluta rendição à noite; eu senti um impulso e escrevo-te
antes que cheguem as estrelas e eu me distraia… a pensar em ti.
Preciso dizer-te que te amo tanto que jamais
morrerei de amor por ti, muito pelo contrário, quero deixar-me estar sempre
aqui a viver de amor por ti, eternamente.
Não te faço juras de amor pois tal
pressupunha a hipótese de um não amar-te, que definitivamente não existe.
Também nunca te direi que me perdi de amor
por ti porque realmente me encontrei no amor por ti.
Jamais te amarei cegamente porque tudo neste
amor é bom de ver e tu és o mais bonito do mundo.
Não sugiro que por ti vá buscar a lua ou
roubar os anéis de saturno porque contigo o universo é tão perfeito que não
quero alterá-lo no mais ínfimo detalhe que seja.
Não prometo casar contigo. A forma como te
quero, como te desejo e penso em ti dispensa qualquer suplemento legal; e
depois, eu sou tanto mas tanto mais do que aquilo que de mim fala o Cartão de
Cidadão. E todo esse tanto já é teu.
Não trocarei alianças contigo. Não
precisamos. Os nossos olhares expressam a fidelidade de uma forma mais completa
e verdadeira do que qualquer detalhe que o ouro possa conter.
Mas sim, sonho ver contigo todos os
entardeceres a partir de uma varanda caiada e debruada de azul, sentindo os
dois que o sol se apaga na seara rendida à noite.
E de cada uma dessas nossas noites faremos um
abraço onde viveremos para sempre.
Já pressinto as estrelas e por isso vou ter
de acabar de escrever deixando-te mil beijos por entre dois corações, cada um
de sua cor, mas que juntos fazem um país imenso.
Teu para sempre,
Francisco
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