Que venha o mundo inteiro e lute contra mim…
Nunca
existirá nada ao qual possamos tão legitimamente chamar nosso, do que aquilo
que guardamos no coração.
Que
venham “monstros”, super-heróis, “piratas” que ataquem nas “baías” dos dias e
pela calada da noite; que a propriedade manter-se-á nossa, não deixando ruir
jamais aqueles corredores discretos e íntimos entre nós e alma, os espaços de
sofás e flores onde nos sentamos no silêncio para “namorar”.
Só
nós gerimos, admitindo ou expulsando aquilo e quem “habita” semelhante recanto
da alma, em processos indiferentes ao tempo: podem passar anos ou então ser
tudo tão rápido…
E
é sempre o nosso coração que tem o privilégio de oferecer o estatuto de
eternidade.
O
coração, onde sempre se guarda a verdade mais verdadeira, é também o melhor
refúgio para os segredos, e não fora a tentação de bastas vezes eles
espreitarem às janelas da face e de pincelarem os gestos que fazemos, e também poderíamos
afirmar que era o “esconderijo” mais eficaz.
E
o coração dói naqueles instantes em que persistimos em manter ligado às
máquinas e numa muito íntima “Unidade de Cuidados Intensivos Emocionais”, todos
aqueles que sabemos já estarem afectivamente mortos, e que se mantêm ali por
pura persistência e ilusão da nossa parte.
No
silêncio da noite passada e espreitando o luar pela janela aqui de casa,
sentei-me contigo num daqueles sofás de namorar que existem no corredor entre
mim e o coração; sentados os dois sem mais nada do que apenas nós.
Dali
víamos o mar, e entre palavras e lembranças, na perfeição de um beijo pressenti
a eternidade.
Que
venha o mundo inteiro e lute contra mim…
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