A bruxa do Castelo de Vila Viçosa
Não sei se constituirá
novidade para muitos de vós mas nos primeiros anos do Século XX, o Castelo de
Vila Viçosa teve oficialmente uma bruxa.
Chamava-se Maria
Gertrudes, era viúva e tinha já uma idade avançada à época das “bruxarias”.
Esta mulher, simples e
discreta, vivia numa casa modesta algures numa das ruas situadas dentro do
Castelo e era frequentemente avistada com uma candeia acesa passeando de noite
no cimo das muralhas.
Numa localidade sem luz
eléctrica, uma mulher toda de preto com uma candeia de azeite, a passear nas
muralhas que ainda por cima são vizinhas do cemitério, cedo mereceu o rótulo de
bruxa.
Só poderia mesmo andar a
encontrar-se com o diabo e a patrocinar-lhe as actividades demoníacas.
Houve no entanto alguém
que um dia se lembrou de ir a fundo na análise do porquê das investidas
nocturnas da velha Maria Gertrudes, tendo chegado à conclusão que sendo a
senhora vizinha de um Guarda-fiscal, ela subia às muralhas sempre que o seu
vizinho militar recolhia a casa, emitindo com a luz da sua candeia, um sinal de
que não existia mais perigo e que o seu filho, contrabandista de profissão,
poderia a salvo desenvolver a sua actividade.
A bruxa era afinal uma
mãe fantástica, como aliás são todas as mães, e o seu pacto não era com o
diabo, muito pelo contrário, era com Deus nessa expressão maior da sua grandeza
que é o amor de uma mãe para com o seu filho.
Esta história que me
chegou através de um livro magnífico do Prof. Celestino David, comprova como
estava certíssimo Platão ao escrever a Alegoria da Caverna, quatro séculos
antes do nascimento de Cristo: nós vemos e assumimos uma realidade deturpada e
condicionada, por nós ou pelas circunstâncias.
É pois necessário romper
as “amarras” que nos condicionam e ir em busca da verdade.
O pior deste tempo é que
a omissão e a camuflagem da verdade são opções conscientes dos indivíduos medíocres
para na aparência passarem de si mesmo uma imagem irreal, uma ilusão que lhes
permita cumprir ainda que de forma virtual, o melhor destino que sonharam para
si num acto pérfido de estupidez partilhada com os demais, aqueles a quem
julgam poder enganar.
Na situação inversa da
Maria Gertrudes, as “santas e inocentes criaturas de hoje” são em muitos casos,
verdadeiras “bruxas”.
E o mundo é um teatro de
sonhos que afinal são pesadelos ocultos.
Por entre os
ex-primeiros-ministros pseudo amnésicos e travestidos de santinhos de pau
carunchoso, os ministros que objectivamente mentem, os indivíduos que são capas
de revista mas que necessitam mergulhar em tanques de cobras montados em
estúdios de televisão para poderem ganhar algum dinheiro e poderem sobreviver,
os hipócritas defensores de uma falsa moral que não praticam…
Comovi-me com o Papa
Francisco a celebrar missa numa praia do Brasil com milhões de pessoas, nas
mesmas areias onde os Portugueses celebraram missa quando ali chegaram há cinco
séculos, comovi-me com a sua mensagem que apelou à verdade e comovo-me
sobretudo com a tentativa que reconheço na sua acção de dar expressão a essa
mesma verdade e à simplicidade do amor de um Cristo que mais do que condenar,
soube e ensinou sempre a acolher, jamais tolerando a hipocrisia das apenas
públicas virtudes.
A verdade é a maior das
virtudes e a mentira é o próprio “diabo”.
E ainda dizem que não há
bruxas…
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