O Óleo de Fígado de Bacalhau e a Justiceira de Queluz
Nestes
dias quentes de verão em que o sol abrasa aqui pelo Alentejo, o melhor sítio
para se estar é sempre o refúgio das nossas casas caiadas que ainda oferecem
algumas hipóteses, raras, de um ambiente mais fresco.
Entre
as leituras e as escritas, fugimos da televisão por não existir mais poder de
encaixe para a música pimba transmitida desde os espaços ajardinados e à sombra,
das cidades e vilas por onde passa a Volta a Portugal em Bicicleta, e dá-se uma
espreitadela aos jornais para não se perder de todo o contacto com o mundo.
E
assim, neste fim-de-semana que passou, bem poderemos dizer que ficou marcado
definitivamente pelo Óleo de Fígado de Bacalhau e pela Justiceira de Queluz.
Passo
a explicar.
Não
gosto do Jorge Jesus, e nunca gostei. Não lhe aprecio a pose, a arrogância e a
sobranceria de quem nunca se engana e de quem nunca assume os erros, atribuindo
sempre a culpa das derrotas à má sorte ou à má vontade dos árbitros.
A
mesma sobranceria de se colar por mérito aos momentos de manifesta sorte ou aos
benefícios colhidos das arbitragens.
Treinador
do meu Benfica há já quatro anos, eu tenho com ele a mesma relação que tenho
com o Óleo de Fígado de Bacalhau. É detestável, sabe horrivelmente e só se tolera
se da sua utilização virmos surgir algum proveito. No caso do Jorge Jesus,
algumas vitórias, que como não surgem devem levar automaticamente à suspensão
da terapêutica.
Venha
de lá o Tonosol, o Vi-Dailin, o Calcigenol, a Viterra ou algo que possa fazer o
mesmo efeito sem tão desagradável sabor.
E
depois, há a Justiceira de Queluz.
Numa
entrevista a um milionário tatuado e cheio de jóias, algo parecido a uma versão
masculina de Pepa Xavier mas com posses para comprar carteiras Chanel de todas
as cores… e não só a preta que dá com tudo, Judite de Sousa ultrapassa
largamente as suas funções de entrevistadora, e faz de uma forma demasiado
explicita, um julgamento público do dito senhor, tendo por base a moral e o bom
senso no contexto actual de crise em que vivemos.
Depois
de todos sabermos que esta senhora ganha por mês perto de 30 mil Euros, de a
termos visto há uma semana em directo a trocar presentes e a receber línguas de
gato do Prof. Rebelo de Sousa, e sobretudo, depois de termos visto a forma como
expos a sua vida privada e afectiva nas capas das principais revistas
cor-de-rosa da última semana, reconheçamos que a sua legitimidade para julgar
Lorenzo Carvalho é igual à que eu tenho para dar um concerto de jazz no Coliseu
dos Recreios.
Repito,
não é que como jornalista alguma vez a tivesse, mas assim, muito menos.
E
pode parecer que Judite de Sousa para além das madeixas louras nada tem a ver
com Jorge Jesus, perspectivando-se um conjunto vazio na intercepção ocorrida
este fim-de-semana entre o Óleo de Fígado de Bacalhau e a Justiceira de Queluz
(que Kit só deve ter o de maquilhagem).
Mas
eu acho que há algo em comum e que infelizmente envolve outras pessoas que nos
marcam negativamente os fins-de-semana e todos os dias, é a noção de poder bacoco
que o dinheiro e o mediatismo, reunidos nessa inflamação social chamada
novo-riquismo, oferecem a quem não tem escrúpulos, ou pelo menos bom senso.
E seguem quentes os dias… e eu procurando refrescar-me.
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