Abrimos as portadas e vimos o mar
Sobre
a mesa-de-cabeceira, a do lado direito, por onde entro sempre na cama, tenho um
pequeno livro com poemas de Pessoa que veio substituir há pouco "O búzio
de Cós" de Sophia, que morou por aqui algumas semanas.
Leio
sempre algo antes de apagar a luz, nesse instante em que por entre Pai-nossos e
Ave-Marias, os meus braços invejam o pensamento por não te terem aqui para te
abraçar.
Poemas,
orações e as preces dos meus lábios, detalhes de uma imensa fé e de um querer
infinito, para que um sonho te traga até aqui à minha noite, e para que o sono
não corte o eterno pensamento que estando vígil, sempre me traz o teu olhar.
Mas
a esta noite acudiu-me a sorte... sonhei contigo.
Havia
um corredor imenso de um soalho que brilhava de cera, e os dois de mão dada,
lado-a-lado, alternando olhares e passos, trocámos palavras até chegarmos a uma
sala grande com janelas fechadas.
Abrimos
as portadas e vimos o mar.
Depois,
e sem que se explique, como sempre acontece ao sonhar, chegou o Hemingway e
ficámos os três à conversa longas horas, sentados e animados por infinitas
histórias… tendo cada um de nós a sua barba para coçar.
Mais
tarde abrimos a vidraça de uma janela, despedimo-nos do escritor de "O
velho e o mar", e dando novamente as mãos saltámos e voámos para longe
cruzando oceanos e mares.
Só
me lembro que parámos depois numa ilha e num cais adornado de oliveiras.
Seria
Cós?
Demos
um beijo sentindo que esta ilha há milénios esperava por nós; e por entre o
beijo, cumprindo a eterna insatisfação dos enamorados, eu só me recordo de
pensar:
-
Não, acordar agora? Não.
Mesmo
que o pensamento seja eternamente teu, agora estás aqui para eu te abraçar.
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