Há manhãs às quais pedimos silêncio para podermos usufruir do eco das noites
Caminho
rumo ao sul por entre sombras, e a pouco e pouco, e coberto pelas nuvens, o sol
vai despertando as cegonhas que há muito têm casa no cimo das ruinas de um
velho moinho que fica mesmo ao lado da auto-estrada.
As
árvores emergem da penumbra, e só os choupos e uns raros plátanos insistem em
falar de Outono por entre a constância verde dos sobreiros e também das muito
mediterrânicas oliveiras alinhadas nos seus corredores traçados a régua e
esquadro.
Do
café onde paro para descansar um pouco tenho vista para uma festa de
ruborizados medronhos e para o desenhado voo de uns muito animados tordos que
os namoram.
O
castelo de Evoramonte está envolto pelas nuvens e adensa mistérios nas
convenções que não rejeitamos nunca fazer com o além.
E
eu sigo sozinho e na aparência de não viajar por entre palavras, muito ao jeito
de quem segue pé ante pé, por não querer despertar o dia.
Há
manhãs como esta, manhãs às quais pedimos silêncio para podermos usufruir do
eco das noites.
Eu
penso em ti e o meu silêncio é afinal um mar privado, secreto e eterno das
palavras que de noite bebi de ti e do teu olhar.
Prometo,
e faço-o por mim:
-
Jamais te deixarei morrer nas palavras e no tudo que me dás.
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