JOSÉ MARIA
Na
minha pequena sala onde agora escrevo há dois quadros pendurados na parede a
que tu ofereceste os teus traços.
Os
traços e as palavras são elementos na mão dos poetas nessa doce alquimia de
cantar a vida e tudo aquilo que os dias vão oferecendo.
Ofereceste-me
cada um destes quadros em Vila Viçosa, exactamente nos dias em que lancei os
meus dois livros de crónicas e de memórias. Num dos quadros há a Praça da nossa
infância, com laranjeiras e a igreja de São Bartolomeu; no outro estou eu com
uma expressão em que me reconheço.
Quando
os dois percorríamos juntos a Alameda do Carrascal para apanharmos a automotora
das sete e vinte da manhã que nos levaria para as aulas em Estremoz; talvez
nunca tivéssemos sonhado que as nossas palavras e traços se cruzariam tantas
vezes assim, brotando da amizade, alimentando memórias, cantando os nossos dias
felizes no contexto de uma perfeita estereofonia de sentidos.
Ou
talvez sim… que a ousadia também nunca a deixámos órfã por entre o choro da
lamúria e a resignação.
Ontem…
há trinta anos, quando petiscávamos empadas à sombra dos sobreiros e galgávamos
montes cheios de estevas ali para o lado da Fonte dos Castanheiros, com a
Manuela, o Manuel, as manas Duarte, e tantos outros amigos; jurámos mil vezes
que iriamos ser felizes não traindo jamais a fé que nos juntava.
A
forma mais verdadeira de louvar a Deus é a louvar a vida, à nossa escala,
enchendo-a da certeza de que em qualquer amanhã iremos ser mais felizes do que
hoje.
E
a felicidade é tão-só sermos nós na fidelidade aos sonhos e ao destino que
sonhámos, custe o que custar, fique incomodado quem o quiser ficar.
Foi,
e é esta fé, e esta ousadia, que nos juntaram na amizade que dura há décadas, e
também na cumplicidade dos traços e das palavras que oferecem voz à poesia que
“cantamos”.
Sempre
a rirmo-nos muito de nós e de tudo o que nos vai acontecendo à medida que tu
ficas sem cabelo e eu o vejo crescer cada vez mais branco na face; ao ritmo da
ginja, do brinhol, das viagens e dos cafés à sombra do Restauração.
É
a vida no seu melhor com o patrocínio total dos amigos.
Zé,
um grande abraço de parabéns e que continues a ter dos melhores argumentos para
desenhares muitos e bons quadros.
Eu
ofereço-te a amizade, as palavras e as paredes vazias que ainda vão existindo
aqui por casa.
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