A oeste, Portugal
O
retrovisor oferece-me o prenúncio do Lumiar e da perfeição de Lisboa, quando de
relance observo o imenso vale de Loures, que deixo para atrás à medida que a auto-estrada
me faz subir até aos moinhos que, antigos ou renovados, insistem em não desaproveitar
a força dos ventos que sopram bravos nos cumes dos montes saloios.
E
os moinhos recortam as linhas, de Torres, da “memorial” Mafra, e de todos os
horizontes até ao ponto em que Óbidos nos esconde Peniche e as Berlengas e nos
fala das Rainhas, de quem sempre foi jóia maior que a própria coroa.
Óbidos,
o castelo que nem o mar resiste a beijar, tornando-se lagoa e criando o
arrendado de terra e água que pelo Arelho e deixando a Foz, nos leva às Caldas,
por D. Leonor baptizada rainha, e por Bordalo tornada o berço do Zé, que sendo
povinho, tem afinal a cara e o gesto de todos nós.
Antes
de Leiria e do infinito mar de troncos que sustentam no alto o pinho verde
semeado por D. Dinis, o Lavrador, o Alcoa traz-nos à memória o Baça e as terras
de Cister que estendendo-se até ao mar da Nazaré de D. Fuas, são sítio, e são a
sombra do mosteiro que guardará para sempre as memórias dos infelizes amores de
Pedro e Inês.
E
por Pedro e Inês, em Coimbra, do sangue se fez a fonte, cúmplice do Mondego que
desce da Serra e que antes da Foz recebe o Pranto, para mais à frente, na Figueira,
da tristeza do povo do fado, a lágrimas, de sal temperar o mar.
E
segue boa a viagem, tal qual a Serra que do cume nos revela a imensidão de
verde que parece escorrer do Buçaco para, por entre Quiaios e Mira, nos
atapetar o caminho até Aveiro, a nossa Veneza da Ria e do moliço.
Daqui,
até Espinho e Gaia, até à Granja, menina do mar e da eterna e maior Sophia, as
chaminés que rompem por entre o verde do pinhal, denunciam o trabalho e o
músculo da gente nobre e guerreira de entre Douro e Vouga.
Gaia,
Douro e Porto…
Pela
Arrábida, muito breve se nos faz o caminho, tanta a vontade de ver a cidade, sempre
nessa hesitação de espreitar à esquerda a imensidão da Foz ou de relance buscar
a Ribeira, única e tripeira, sustentando a perfeição da imperial cascata de
tons granito.
Invicto,
será sempre o amor pelo Porto.
Cheguei.
Uma
manhã solarenga mas fria de Inverno, estrada fora na companhia do pensamento e das
memórias, e sempre com as cumplicidades do Atlântico que nos molda o ser e nos
marca definitivamente a História.
A
oeste, Portugal.
Eterno
e legitimado pela força do que nos une.
Beleza de escrita e narração
ResponderEliminarExtraordinária narrativa esta em que, numa pincelada breve, se descortina em briosa prosa poética, este Portugal belo e romântico, que hoje (Janeiro do ano da desgraça de 2013), mais uma vez na história "descamba" para uma espécie de "fado errado".
ResponderEliminarSOMOS UM PAÍS PEQUENO ,EM TAMANHO MAS MUITO GRANDIOSO EM BELEZA
ResponderEliminarRUI PEREIRA