É o destino!
Um
dos traços mais marcados na nossa lusitana forma de ser e estar na vida, é o
assumir da predestinação, o inevitável destino e fado, como justificação para
tudo o que nos acontece de bom, mas sobretudo de mau, que é sempre bom deixar
uma margem para a nossa “genialidade” salvadora.
À
semelhança de João Calvino e dos seus seguidores, colocamo-nos comodamente na
posição de sujeitos passivos e incapazes de mudar a nossa história, actores no
cumprir de um guião supremo que alguém no acto da criação nos colocou na
mochila da sorte.
A
nossa vontade conta muito pouco perante tão incríveis e insuperáveis bênçãos de
Deus ou pragas do diabo.
Olhando
para alguns exemplos, rapidamente concluímos que a situação é deveras cómoda,
essencialmente porque nos desresponsabiliza.
E
até quando falamos de triviais situações do âmbito da “moral” que também apregoamos
sempre como nossa.
Por
exemplo, todos sabemos que a fidelidade em Portugal foi sempre e só uma
companhia de seguros, mas todos assumimos que ela só deixou de ser praticada ao
nível conjugal com a chegada das “malvadas” das Brasileiras que nos vieram
desviar os “homens” dos caminhos das mais puras virtudes.
E
os homens Portugueses limitaram-se a cumprir o seu destino…
Crimes
violentos em Portugal? Não havia até à chegada das máfias de leste. Por acaso a
minha pacata terra está cheia de cruzes de pedra nas fachadas para assinalar
mortes violentas que ocorreram ao longo dos séculos, mas isso… não interessa
nada, como diria a outra.
Embalados
por esta esquizofrénica atitude, até as instituições vão na avalanche.
Recentemente,
os meios de comunicação social noticiaram que o número de mortos nas estradas
do país baixou em 2012 para níveis idênticos aos de 1950, numa altura em que o
parque automóvel estava em números nos antípodas do que é hoje.
Num
ano em que até implementaram portagens nas estradas supostamente mais seguras e
se desviaram condutores para estradas de maior risco, todos os comentadores
assumiram que este feito se ficou a dever apenas à crise financeira e à
diminuição do poder de compra de combustível para alimentar as viaturas.
Não
tenho dúvidas de que teve influência mas… e a Brigada de Trânsito da GNR? E as
polícias? Trabalharam para quê? Não trabalham supostamente para a segurança das
pessoas que circulam nas estradas? Será só para a caça à multa?
É
caso para dizer que nem para eles são, pois tinham aqui uma boa oportunidade
para justificar a sua existência e se apresentarem aos cidadãos com os
objectivos cumpridos, ajudando-nos até a suportar o seu exageradíssimo excesso
de zelo que leva a multar sofregamente qualquer condutor que apenas olhe para o
telemóvel para ver as horas ou que por uma fracção de segundos passe um
semáforo entre o intermitente e o vermelho.
Mas
a desculpa com a inevitabilidade do destino, que nestes últimos tempos se confunde
com crise e troika, está sempre mais à mão e é mais fácil de usar.
Depois
do BPN, o Estado vai despudoradamente injectar dinheiro no BANIF evidenciando
que a sua preocupação é a banca e que para que ela sobreviva, nem importa que o
povo morra à fome.
E
o que se ouve nas ruas e nos cafés enquanto tomamos a bica:
-
O que se pode fazer? É sempre assim.
Das
coisas mais simples às mais complicadas, somos nós que fazemos o nosso próprio
destino pela arte das opções que tomamos e pela força das nossas acções e
sobretudo, convicções.
E
um Homem com objectivos apenas de passiva sobrevivência, é um fraco.
E
um povo em letargia e sem convicções, perde o seu destino e aniquila-se, apagando-se
como nação.
Se
nos demitirmos de agir e fazer, promovemos a nossa auto-condenação ao desaparecimento.
Antes
que nos matem, sejamos nós por obras, convicção e insubmissão, a matar o
destino que nos oferecem.
ResponderEliminarO destino.
E como os dramaturgos, não anuncia as peripécias nem o desfecho.
Rui Pereira