Por favor, privatizem-me!
Conseguiram.
O
recibo que hoje me foi entregue, comprova-o.
Pela
primeira vez em mais de vinte anos de trabalho, a quantia que me é descontada
do salário, é superior à que me é entregue para eu poder passar nos pórticos das
SCUT’s e na via verde, pagar o IVA, as taxas moderadoras, os juros do
empréstimo ao banco, o imposto sobre combustíveis, etc.
À
semelhança do que aconteceu no ano quente de 1975, posso dizer que fui
literalmente nacionalizado.
Ironias
do destino, os liberais, os Homens que idolatram os Mercados, por seu
interesse, viraram gonçalvistas.
Pela
calada da noite da incompetência dos políticos, assaltaram-me, ocuparam os meus
parcos haveres e neste momento ganhei a legitimidade de acrescentar EP (Empresa
Pública) ao meu nome, uma vez que sou maioritariamente gerido pelo Estado, e
sou uma importante parcela do Orçamento desse mesmo Estado.
De
caminho e porque tenho a consciência do que é o problema do desemprego neste
país, ainda me obrigam a sentir-me agradecido e um privilegiado.
Aliás,
duplamente agradecido, pois não se calam com a história do redimensionamento do
Estado Social e do necessário controlo do excesso de generosidade do Estado
para com os cidadãos, eu incluído, na educação, na saúde e no apoio social que
me facultam, a mim e aos meus.
Com
medo de que eu pudesse esquecer a elevadíssima qualidade de quem me gere como
Empresa Pública, tiveram a amabilidade de colocar em entrevista na RTP, o
ministro mais patético de sempre, a falar de exigência e de dores na
reestruturação da televisão pública.
Alguém
deveria ter dito ao Sr. Relvas de que mesmo quando a mensagem é muito séria, se
o emissor for um palhaço, a comunicação vira sempre uma anedota.
E
eu, aqui, nacionalizado, e mal gerido.
Por
isso e com toda a legitimidade, estou em luta: exijo ser reprivatizado.
Por
favor, devolvam-me a mim.
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