O vento
Toda
a noite, o vento soprou forte.
Grito,
sussurros, a cumplicidade com a chuva arrastada para a vidraça, e esse desenho
dos sons que a nossa imaginação faz parecer palavra.
A
voz do vento nascida da sua força, ou o mar perseguindo-me e impondo-se aos
meus dias no Alentejo que só o pode sonhar, sendo como é, pedaço perfeito de
terra lusa, que mira a nascente e corteja Espanha.
No
Terreiro, ao lado da minha janela, o cipreste que compete em altura com a
imponência do Paço, agita-se desde a madrugada num estranho bailado que dá
movimento à estranha e inédita Banda Sonora que povoa hoje a minha terra, e que
nos matou por instantes esse privilégio da companhia do eco dos nossos passos
sobre a calçada.
Espreito
pela janela, e daqui, do quente da camilha que esconde a braseira que pelo
corpo me aquece a alma, vejo que o cinzento que se impôs ao céu, preservou e
mantém intacta, a beleza do casario branco que por sob o tijolo dos beirais e
numa quadrícula em amarelo e azul feita de rodapés e umbrais, dá corpo à Calipole, de onde sou e a que pertenço.
No
ar já cheira a hortelã e de grão-de-bico se fez o cozido que anuncia o almoço.
Que
bom é estar em casa, na minha verdadeira casa, num dia assim.
Com o Alentejo, e sempre, com as memórias do mar.
Como eu
ResponderEliminarcomo eu gosto de ouvir água que desce pelo telhado Formando um só fio de goteira
Me leva de volta ao passado
Recordando feliz brincadeira
RUI PEREIRA
A força é a mesma e o mar acalmou.
ResponderEliminarAs lembranças e as palavras perduram ainda no murmúrio do vento manso.
Mar