Viagem a Ítaca
Quando
em Agosto de 2007 aportei na ilha Grega de Ítaca, o Juan Blas não se tinha
esquecido do CD em que Luis LLach canta a viagem para essa ilha de todos os
sonhos de Ulisses, e a saída do ferryboat ao som da voz e das palavras do
cantautor Catalão, teve tudo o que têm os momentos perfeitos, aqueles em que é
irresistível pensar:
-
Ganhei à vida.
Hoje
pela manhã e enquanto escrevia uma mensagem de parabéns para a minha querida
amiga Ana Cravo, para todos nós, a Tina, recordei-me desse momento e fui à
procura das palavras de Llach, ousando uma tradução do Catalão para o
Português:
“Quando saíres para a viagem a Ítaca,
ora para que o caminho se te faça
largo,
cheio de aventuras e experiências (…).
Mantém sempre no coração a ideia de
Ítaca.
Tens de chegar pois é esse o teu
destino,
mas jamais forces ou tentes encurtar a
travessia.
É preferível que dure muitos anos
e que sejas velho quando aportes à
Ilha,
rico de tudo o que haverás ganho pelo
caminho,
sem esperares jamais que ela te acrescente
riqueza.
Ítaca deu-te a inesquecível viagem,
e sem Ítaca, jamais haverias partido”.
Tina,
acho que era de Ítaca, da Ítaca de cada um, que falávamos quando partilhávamos
sonhos ao entardecer e no regresso da Escola, atravessando o Terreiro do Paço da
nossa Vila Viçosa, inspirados pelo mágico pôr-do-sol que apreciávamos sempre
por detrás da majestosa nogueira que ainda hoje existe entre as Chagas e o
Palácio.
A
nogueira que sempre nos fez hesitar entre o gostar mais dela com folhas ou
despida, quando no inverno nos ofertava generosamente a perfeição dos seus troncos.
Nunca
tememos o avançar com, ou rumo aos sonhos.
Quando
com quinze anos resolvemos fazer um trabalho de Economia, escrevendo-o a branco
sobre folhas de cartolina de cor negra e ficando com uma bolha nos dedos pela
força com que tínhamos de carregar o lápis de cor que afiávamos de cinco em
cinco minutos, já sabíamos que nunca iríamos desistir do que nos impusesse a
vontade e o querer, mesmo que estivesse inerente uma forte componente de diferença
e o pagamento de uma elevadíssima factura.
Em
primeiro, sempre, a fidelidade a nós mesmos.
E
a todo o custo, que contra tudo, pode a nossa força.
Hoje
estamos pejados de cabelos brancos e já são 47, os anos desta nossa viagem que
queremos e merecemos, seja longa.
Agora,
já não fazemos torradas utilizando o fundo da frigideira para nos alimentarmos
nos lanches em que riamos tanto que acordávamos o bebé da tua vizinha de baixo,
já não inventamos histórias malucas para irritar o professor de Português
obcecado por perfumes e pela Morgadinha dos Canaviais, já não comemos pedaços
de papel, já não armadilhamos o percurso dos professores mais irritantes… Mas
continuamos em ritmo veloz de encontro ao que queremos ser, algures no
território dos sonhos mais profundos.
Tina,
parabéns.
É muito bom navegar tendo-te sempre à vista, nesta cumplicidade de buscar
o destino, sabendo que a riqueza se constrói dia-a-dia e em todos os momentos,
mesmo que por mais simples, de um longo caminho.
Parabems ,magnifico
ResponderEliminarRUI PEREIRA