O céu que cabe todo no teu olhar
Há
muito que ouço trovejar, e por isso não estranho a intensidade dos relâmpagos
quando às escuras me aproximo da janela da Cozinha que me oferece vista
desafogada até ao Tejo e ao seu irresistível encontro com o mar.
É
um espectáculo único, este dos raios a tentarem contrariar a noite, iluminando
assim intensamente o breu que é costumeiro palco exclusivo para o brilho das estrelas
nas suas muito arrumadas e muito bem conhecidas constelações.
Um
espectáculo ao jeito da melhor sessão de fogo-de-artifício em qualquer romaria,
ou então do disparo do flash de uma hipotética
câmara fotográfica gigante e com direito a Guiness
Book of Records.
A
noite de verão é denunciada aqui apenas pela temperatura, pois no demais tem
tudo de inverno, e até a chuva que não tarda em cair com uma intensidade que
faz tremer a vidraça.
O
prédio já está em silêncio depois daquele “desafio” de gritos, golos e
impropérios, patrocinados pela astenia dos jogadores da Selecção Nacional de Futebol,
uma apatia crónica veiculada pelas operadoras de televisão que nos fazem chegar
as notícias com a diferença de alguns segundos. A avaliar pelas manifestações
sonoras, o meu vizinho de cima vê os golos antes de mim, mas eu levo vantagem
sobre os vizinhos do apartamento ao lado do meu.
Hoje,
nem no Campeonato do Mundo do Brasil, nem aqui no céu por cima da minha casa… esta
não é definitivamente a noite que faça brilhar todas as estrelas.
Mas
nunca será pelo facto de as não podermos ver, que as estrelas do céu deixarão
de existir.
São
muito mais vulneráveis, todas as nuvens que as escondem desta forma tão fugaz.
E
o verão e as suas noites são como os golos gritados pelas gentes nos
apartamentos do meu prédio; poderão tardar, mas chegarão sempre a tempo de
podermos fazer uma grande festa… à luz das estrelas.
Agora,
através da janela, vejo chover copiosamente enquanto tomo as minhas
“pastilhas”, porque isto dos quarenta e muitos, arrasta sempre consigo o
acelerar do risco cardiovascular. No prédio ao lado, alguém se entrega ao
próprio “risco” e fuma com “ganas” à janela, promovendo uma estranha competição
entre a ponta incandescente do seu cigarro em cada “passa”, com o impossível
clarão dos relâmpagos.
E
por falar em coração…
Tão
parecidas que são as estrelas e o amor, em tudo e até no chorar; quando a
saudade, assim como as nuvens, não nos deixam ver o céu.
O
céu das estrelas que cabe todo no teu olhar.
Gosto
tanto de ti.
Oxalá
a chuva intensa sobre a vidraça não me acorde e interrompa o meu longo e
permanente sonhar contigo.
Isso
sim seria perder ou empatar.
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