Para podermos caminhar só precisamos de ter vontade
A noite de Dubrovnik está quente e há uma multidão
entre muralhas como que na expectativa de uma brisa fresca que o mar possa
oferecer.
Numa praça há um homem que toca viola, numa outra mais
à frente soa uma orquestra, e nós sentamo-nos na esplanada de um bar escavado
no rochedo que desce para o Adriático.
Não fora a memória e as luzes dos barcos que passam ou
andam por ali a pescar, e não seria pela brisa que descobriríamos ser o mar
aquele breu imenso à nossa frente.
Hoje nem a lua veio para nos ajudar.
Mas a realidade está muitas vezes para lá daquilo que
nos é permitido ver de uma forma racional.
E ali está o mar à nossa frente.
Tomamos um refresco para animar a última noite da
viagem e revivemos alguns momentos...
O motorista que se chama Jelco, que em Português
significa desejo, uma guia Croata que adora a palavra Portuguesa Borboleta e
que a adoptou como endereço de e-mail, o bar em que a palavra-passe para o
Wi-Fi é "findyourway" (encontra o teu caminho), o sol que se banha
connosco ao fim da tarde, as farturas que parecem ser universais e sabem muito
bem na noite de Split, o Amato Lusitano que foi um dos médicos mais importantes
da História de Dubrovnik, as nossas gargalhadas, as palavras mais repetidas:
guerra, independência e religião...
E partimos pouco depois porque há malas para fazer e
um avião para apanhar cedo e regressar a Lisboa.
Um último olhar, uma derradeira compra... e a meio da
rua principal a Sónia rompe a sandália do pé esquerdo, e passa a coxear
arrastando a sola.
Um bom resumo para tudo aquilo que vimos e aprendemos
nesta viagem por entre uma perfeita sintonia e amizade: para podermos caminhar
só precisamos de ter vontade.
Pelo desejo descobriremos sempre o nosso caminho, a
rota que nos leva à independência e à liberdade, mesmo que muitas vezes com aquele
desconforto que nos obriga a coxear.
E viva a paz por entre a consciência de que a religião,
qualquer que ela seja, tem muito mais de humano do que de divino.
Deus é único, é a própria paz e está sempre presente,
tal qual o mar numa noite de breu e sem luar.
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