As cambalhotas acrobáticas
Ontem
depois do almoço assisti à conversa entre duas colegas em que uma convidava a
outra para um passeio digestivo nas redondezas do edifício, tendo então
recebido como resposta:
-
Hoje não posso. Com estes sapatos não consigo andar na rua.
Olhando
atentamente para os quinze centímetros devidamente compensados, reparo que os
sapatos, na versão escadote e um verdadeiro doping
da altura, não permitem andar sobre qualquer outro piso que não soalho ou
alcatifa, sendo para além disso um exercício pouco recomendável para quem sofra
de vertigens.
Os
sapatos, que deixaram de ser um adereço para facilitar o acto de caminhar e
passaram a ser um acessório de moda e uma forma de “esticar” as ladies, são
afinal e tão-só um pequeníssimo exemplo das alterações verificadas nos últimos
tempos na lusa terra em que nada parece igual ao de antes.
Mesmo
sabendo que desde o século doze, quando o D. Afonso Henriques “bateu” na mãe,
há na zona de Guimarães uma propensão para sovas inéditas, não deixa de ser
interessante ver o Jorge Jesus a bater em polícias para defender os adeptos
quando há quatro meses os andava a matar de enfarte do miocárdio com os golos
sofridos nos últimos minutos.
É
uma viragem ao estilo Sócrates, que tendo governado até ao lixo e à chegada da
Troika, fala agora de cátedra e conhece e trata por tu aquela mágica forma para
tirar o país da miséria.
Igual
que Sócrates só Paulo Portas que depois de ter apresentado uma demissão
irrevogável por discordar da nomeação da Ministra das Finanças, não só se
manteve no cargo como anda agora de braço dado com ela a solicitar mais “folga”
nos prazos estipulados pelos credores.
A
credibilidade que é reconhecida a ambos pelas instituições deve ser tão
volátil…
E
tudo ao contrário também nos cartazes das Autárquicas.
Hoje,
parado num semáforo em plena Praça de Espanha, tenho o António Costa a olhar
para mim e a dizer que necessita do meu voto.
Pois…
Mas
nós não votamos para ajudar os políticos, era suposto votarmos para que eles
nos ajudassem a nós.
Ou
fugiu-lhe a boca para a verdade e necessita mesmo do voto para apanhar o
eléctrico desde a Praça do Município até Belém?
Num
exemplo de pura demagogia, Seara promete manuais escolares gratuitos para
todos, no que também é uma viragem pois não consta que o tenha feito em Sintra.
E
até a CDU apresenta o candidato mais bem-parecido de todos, com um ar que até
parece ter regressado de Hollywood de uma entrevista com a Oprah e de ter
comido com ela um cachorro quente acompanhado de Coca-cola.
Enfim,
parece que nada se parece mesmo com nada do que nos habituámos a ver.
A
partir de ontem a Manuela Moura Guedes apresenta o concurso “Quem quer ser
milionário” depois de já ter sido Miss Vindimas Torres Vedras, apresentadora do
Festival RTP da Canção em 1979 e 1984, jornalista, apresentadora do Telejornal
e de programas de grande informação, protagonista do anúncio a um detergente
para máquinas de lavar roupa e deputada à Assembleia da República pelo CDS.
“Está
na cara” de que nada é hoje igual ao de ontem. Culpa dos cardos ou das prosas?
Talvez
apenas mais uma ilustração para esta costumeira vertigem da mudança com a qual
já convivemos demasiado bem, o que por vezes é mau e demasiado perverso.
Em
relação aos sapatos e afins, a gente ainda se ri, mas quanto ao resto…
É
demasiado desconfortável ser a cama elástica para tanta acrobacia.
Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos, o melhor é irmos rindo.
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Uns sapatos que ficam bem numa pessoa são pequenos para uma outra; não existe uma receita para a vida que sirva para todos...o melhor é irmos rindo
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