Votar ou não votar… eis o negócio!
Tenho
uns amigos que uma vez foram assistir à representação do Hamlet, de William Shakespeare,
por uma companhia de teatro originária do Brasil que interpretou a frase mais
famosa da peça com a brilhante tradução:
-
Ser ou não ser… eis o negócio.
E
o que era sério na tragédia que conta a história do príncipe da Dinamarca passou
num instante a ser cómico.
Mas
a peça continua e continuará sempre a ser uma referência universal.
Recordei-me
deste episódio a propósito das eleições autárquicas de amanhã e da penalização
que muitos de nós achamos dever aos políticos por tudo, e sobretudo pelo estado
miserável a que a sua incompetência condenou o Estado em sucessivos governos
envolvendo diferentes forças políticas.
E
digo políticos e não o regime porque como na peça de Shakespeare, o problema
reside nos intérpretes e não no sistema em si, no regime democrático em que
afortunadamente vivemos depois da revolução dos cravos.
A
não ida à cabine de voto penaliza pois injustamente o regime quando o
"castigo" deve incidir sobre os intérpretes, os políticos, e esses
castigam-se pela natureza do voto seja na opção por um outro qualquer partido,
pelo voto em grupos de cidadãos independentes, pelo voto em branco ou até pelo
voto nulo.
Recordo-me
sempre do dia 25 de Abril de 1975, das longas filas à porta das assembleias de
voto e, muito particularmente, da alegria dos meus avós pelo facto de pela
primeira vez na vida puderem votar.
Cumpre-me
honrar esse privilégio e por isso e desde as legislativas de 1985 em que votei
pela primeira vez, apenas numa ocasião e por um motivo de força maior, fui
obrigado a abster-me.
O
nosso voto é um “sim” à democracia com a força de uma arma ao serviço das
nossas convicções.
E
por isso amanhã irei votar.
Faço-o
porém, na tristeza de pela primeira vez não cumprir esse dever de cidadania na
freguesia onde nasci, São Bartolomeu, em Vila Viçosa, pois o Cartão de Cidadão
"puxou-me" para a minha área de residência e colocou-me como eleitor
do Concelho de Sintra.
Mas
como a minha freguesia de Vila Viçosa também passou por um processo de fusão,
sempre tenho este pequeno consolo de a ter acompanhado até ao túmulo neste
funeral patrocinado pelo memoradum de ajustamento negociado com a Troika.
Mas
é estranho ficar em São Marcos num fim‑de‑semana eleitoral e sinto falta do meu
cafezinho de sábado à tarde para "reflexão" conjunta e alinhamento de
posições com o Manuel, a Ana Cristina, a Manuela e o Zé Maria.
E
como é que eu vou votar sem ser na companhia deles todos, e da São, das
candidatas Zinha e Madalena, da Lurdes, do João Paulo... depois da nossa missa
das 11.30 e do café no Restauração?
E
que estranho vai ser não ter alguém na mesa de voto a conhecer-me desde sempre
e a tratar-me por Quim…
Que
estranho não conhecer as pessoas todas que estão nas listas dos diferentes
partidos…
Maldito
Cartão de Cidadão que me arrancou do Pomar das Laranjeiras.
Mas votar, sim, não deixarei de o fazer.
Ainda bem que te “puxou” afinal vais votar para o lugar onde vives. Quanto a mim só penso que o meu nº de eleitor, cada vez parece mais pequeno (é sempre o mesmo, mas os outros é que vão aumentando), qualquer dia sou um dos “velhos da terra” GRRRRRRRRR.
ResponderEliminarEstava aqui a pensar....as Juntas de Freguesias deviam oferecer um “Alfinete” da terra para colocar na lapela do casaco, sim...como nos clubes de futebol....25 anos de casa, toma lá Alfinete....mais 25 anos, toma lá outro Alfinete. Vamos lá fidelizar este pessoal.
O dia das eleições sejam elas quais forem são sempre uns dias diferentes de todos os outros domingos, a verdade é que cruzamos e vemos pessoas a passearem-se pelas ruas que faz anos e anos que não as vemos, gosto disso.
P