A poesia que se solta de um pôr-do-sol (Férias – Dia 14)
Primeiro
começamos a conseguir olhar o sol de frente, e daí a pouco ele desaparece
mergulhando naquele exacto sítio lá ao longe onde o mar parece tocar o céu.
Sabemos
que o pôr-do-sol é uma ilusão que a esfericidade da Terra nos oferece, e também
estamos conscientes da relatividade de um momento que sendo para nós o
anoitecer, para muitos será o inicio de uma nova manhã; mas deixamo-nos ir pela
magia desta hora, que as ilusões são especiarias que nos dão sabor e gosto aos
dias, e esmaga a poesia quem se faz escravo cego da razão.
Da
mesa do nosso último jantar de férias vemos o pôr-do-sol no mar de São Pedro de
Moel, beneficiando da generosidade de quem nos pôs a mesa, quadrada, e deixou
devidamente livre o lugar que condenaria algum de nós a não o ver.
Vamos
apreciando os tons do sol, do céu e do mar, falo da "hora dos mágicos
cansaços" e dos abraços, de Florbela, e deixamo-nos levar pelas
inevitáveis palavras.
Levamos
duas semanas a conversar, e de Florbela passamos pelo amor, pelos namoros de há
cinquenta anos (eu sou da mesma idade do amor dos meus pais), os bailes nas
sociedades recreativas, a vergonha do primeiro beijo só após um ano de namoro...
E
eu ouso pegar no i-phone e ler um dos
meus poemas de amor.
Ali
os três sentados, eu e os meus pais, sabemos que o amor assim tão perfeito não
é compatível com disfarces, é a festa das almas abertas, é a arte dos
recomeços; e tudo, mesmo até o pôr-do-sol, pode ser o inicio de um dia novo e
bem melhor.
Por
isso terminaram as férias mas seguem as palavras e este infindável amor que tem
expressão em todos os momentos.
Já
temos planos para o ano que vem e para estas duas semanas que sempre reservamos
no calendário.
Nunca
nos deixaremos morrer e nós sabemos que ter planos e ambições é tão fundamental
quanto o respirar para quem se quer manter vivo.
Sabem
que nestas férias e em todas as refeições brindei com o meu pai fazendo
tilintar os copos dos tintos que se foram cruzando connosco, e ensinei-o que
para dar sorte temos de nos olhar de frente no momento do brinde. Ele agora
escancara-me sempre os olhos.
Assim
e para terminar, brindo com todos vós na alegria de ter sentido os vossos
olhares sobre estas partilhas:
-
À vossa!
E viva a vida recheada de amor e poesia.
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