Coentros, danças e Bolas de Berlim (Férias – Dia 9)
Entre
borrifos de uma tímida chuva, o nevoeiro e algumas brevíssimas nesgas de sol, finalmente
conseguimos vislumbrar o Monte de Santa Luzia.
E
o dia foi de passeio a pé entre lojas, igrejas e, claro, algumas esplanadas em
prol do descanso e de uma bebida fresca.
A
minha mãe, costureira, não dispensou a visita a uma retrosaria e loja de
bordados. Aí, a proprietária D. Fátima, que gosta de falar quase tanto como eu,
acabou a confessar que adora o Alentejo mas detesta coentros. Quando lhe
perguntei o que conhece do Alentejo, foi rápida a responder:
-
Paramos sempre em Alcácer do Sal para comer um arroz de peixe, sempre que vamos
de férias para o Algarve.
Comparando,
é mais ou menos como dizer que se conhece muito bem Itália apenas porque se
costuma ir comer Pizzas ao Colombo.
E
claro, só ainda provou os ditos coentros no Arroz de Peixe. Onde mais poderia
ser?
Mas
enfim, a senhora é simpática e a minha mãe acabou de comprar uns preparos para
uma toalha de altar cujo restauro tem em mãos.
Na
Praça da República havia baile.
O
traje garrido das raparigas, mais do que uma prova de vitalidade financeira das
aldeãs na sua vinda à cidade, é um louvor herdade das “Maias” de outro tempo e
um louvor à fertilidade da terra.
Se
bem me lembro das palavras de Pedro Homem de Mello que um dia li algures.
E
que bem que estas raparigas e rapazes dançam o vira minhoto.
No
rancho, o rapaz mais pequeno e o que dança melhor, é único e fisicamente
diferente dos demais.
Hoje
por aqui nesta dança, não são só os tons garridos dos trajes que louvam a
terra, há este louvor acrescido à essência da gente, tão independente das
formas e dos “padrões”.
Gosto
muito e não consigo evitar comover-me.
Afinal
de contas, estas coisas do ser diferente…
Terminada
a dança há que ir à Pastelaria Natário furar a dieta da Diabetes.
Dizem
que são as melhoras Bolas de Berlim de Portugal, e eu atesto que são mesmo. Uma
pequena caixa comprada no tempo record
de cinco minutos; nada mau para quem como eu já aguentou aqui uma fila de
quarenta e cinco.
Cumprindo
o seu rito iniciático, os papás aprovam os ditos bolos e eu não resisto a fazer
e a enviar uma foto para quem como eu adora pecar por via da gula.
Aquele
creme a sorrir para nós!
Pois,
pois…
Mais
um passeio, um almoço de peixe no Pescador (com direito a saudades dos
coentros) e o necessário mini descanso pós-prandial, porque afinal nós não
somos Alentejanos só de parar no Canal Caveira, nós somos Alentejanos com vícios
reais típicos de Alentejanos.
E
ao fim da tarde, mais uma bebida fresca à conversa, e o jantar.
Há
dias assim… bem passados e bem temperados, mesmo que sem coentros. Os dias, que
são sempre como as danças e se querem afinados e com o mínimo de pisadelas.
E
quando a coisa falha?
Ora bolas… de Berlim, claro.
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