Travestis, shopping e bebidas quentes (Férias – Dia 10)
Chove
copiosamente quando saímos do hotel em direcção ao Monte de Santa Luzia, e à
medida que subimos, o nevoeiro adensa-se de tal forma que começamos a acreditar
ser possível ver por ali o D. Sebastião, ou então, e embalados pela sétima arte
e entre uma enorme profusão de almas penadas, a Nicole Kidman a protagonizar o
fantástico filme “Os outros”.
Mas
não, espera-nos a missa das onze com o baptizado de um rapaz com nome
impronunciável, e que será qualquer coisa entre “Gerson” ou “Jéssio” (todo o
dia discuti o nome com a minha mãe e não conseguimos chegar a um consenso), o
que para o caso pouco importa, mas que motivou inclusive uma confusão de género
por parte do padre celebrante que começou a cerimónia a assumir que de uma
rapariga se tratava.
O
padre que também não resistiu a confessar que durante o seu sacerdócio já tinha
baptizado gente com nomes mais agradáveis.
E
se não vimos por ali o D. Sebastião perdido nos nevoeiros, com a ajuda de todos
os convidados do pequeno G ou J qualquer coisa, vimos o que é estar no palco de
uma noite de gala de “A casa dos segredos”, ou então num qualquer show de
travestis em alguma casa da especialidade.
E
perdoem-me desde logo estas apreciações da minha parte que são muito pouco
católicas.
Mas
tenho que confessar que por via do famoso programa da TVI, se a Teresa
Guilherme tivesse aparecido, eu não me espantaria; embora a Teresa Guilherme
esteja para uma missa como o leitão da Bairrada está para um banquete de
judeus.
Saltos
prateados de quinze centímetros, vestidos de folhos e esvoaçantes, cabelos coloridos
armados ou esticados, unhas de cores impróprias, silicones que dispensam
soutiens…
Ao
meu lado, um destes seres esteve a missa toda de boca aberta a mascar pastilha
elástica, oferecendo dessa forma uma sonoridade estranhíssima a todas as
orações que ia fazendo:
-
“Pgai nhosso que nhestais nho gcéu gnsantifignhado segnham nham o gvonho nhome…”
Só
não fez balões mas eu estava a ver que ainda lá ia.
No
final da missa, a mesma chuva, o mesmo nevoeiro, a abortada tentativa de ir
almoçar a Moledo, e pronto, pela boca morre o peixe, acabámos a almoçar num
Centro Comercial daqueles que são iguais em toda a parte mas que pelo menos nos
garantia não tomar duche no percurso entre o carro e a mesa da refeição.
Num
dia de férias de verão como nos domingos de inverno na pior opção nos arredores
de Lisboa.
Dirão
que cada um tem o que merece, e eu pelo menos ainda consegui que pelas seis da
tarde existisse para mim um lugar ao sol na esplanada, para uma bebida fresca,
embora a alma estivesse mais para algo quente.
Mas
tomar uma meia de leite numa esplanada às dezoito horas de um dia de Agosto depois
de um forçado almoço no Shopping, era garantia certa de anti-depressivo em
perfusão endovenosa durante algumas horas.
Assim
fiquei mais fresco e… molhado, pois quando me levantei dei conta que antes de
me sentar, o sol não tinha tido força e tempo suficientes para secar as
consequências da tromba de água de antes.
Um
passeio e uma refeição leve, mas já fora do Shopping, e, rezando para que Jesus
e os seus discípulos não metessem tanta água como as cadeiras da esplanada, lá
me sentei a ver a Supertaça de futebol.
No
final ganhou o Benfica mas porque eu me lembrei a tempo e expulsei o meu pai do
quarto em direcção ao dele.
Cartão
vermelho directo.
É
que o seu Sportinguismo dá-me azar.
E
depois deste dia de férias tão especial…
Com
franqueza, Rio Ave?
Deus me livre. Era só o que me faltava.
Comentários
Enviar um comentário