A remexer na areia
Deitado
na praia olhando para cima e beneficiando da visão de 180 graus de céu, vou
mexendo e remexendo a areia ao ritmo dos pensamentos.
O
meu sobrinho João, de férias em Vila Viçosa, fez-me chegar um fax com os
personagens que ele quer ver na próxima história que eu escrever para ele e
para o Luís. O primo Afonso tem de constar num enredo que terá de falar de
monstros.
E
enquanto remexo a areia vou pensando como irei eu colar os meus agora três
super heróis a uma história de monstros com nomes que ele já inventou, e que...
valha-me Deus.
Quando
tratamos o amor por tu, por vezes tomamos o benefício de ser confidentes dos
amigos que sofrem ou cantam amores.
Tenho
uma amiga tão apaixonada, que por estes dias de férias e estando afastada da
sua paixão, sonhou duas noites seguidas que a mesma nunca iria chegar ao que
deseja: partilhar todas as luas com o seu amor.
Mandou
mensagem e aqui vou eu alimentando de fé, a morte deste "monstro"
chamado medo que lhe vai poluindo o sonho.
Aqui
estou remexer na areia tentando pôr monstros numa história enquanto os sacudo
de uma outra história bem mais real.
Libertando
a areia das minhas carícias, de vez em quando levanto a mão e olho-a
atentamente reparando que está diferente; os anos salpicaram-na de pêlos
brancos.
Mas
mesmo assim diferente, não hesito em colocá-la em frente ao sol fazendo sombra
e pensando como antes: tenho uma mão capaz de agarrar toda a imensidão do sol.
Depois
sorrio não conseguindo deixar de pensar que, para além do sol, nesta mão também
cabe o universo inteiro quando toco na tua mão e dou sentido à espera tecida
pelos anos que semearam os pêlos brancos.
E
regresso à areia, palpando-a e encontrando pequenas conchas.
Afinal
isto dos monstros é uma coisa fácil de lidar...
Primeiro
porque somos sempre nós a colocá-los nas nossas histórias, e segundo porque
quem consegue agarrar o sol e tomar o universo na sua mão no momento em que as
peles se enleiam para falar de amor, também domina qualquer monstro.
Sei-o
há muito.
Troco
mensagens com a minha amiga até conseguir palpar-lhe o sorriso.
A
história do João fica mais ou menos alinhavada...
E
assim se faz a tarde de quem estando só nunca sente a solidão.
E
do mexe e remexe da mão na areia trouxe uma concha, a mais pequena e a mais
perfeita.
Guardei-a para ti como presente, afinal foste tu que me mataste os
monstros, que prolongaste a magia da infância até aqui onde as mãos estão mais
velhas, ofereces-me o universo com as tuas mãos e apareceste assim como esta
concha, inesperado e perfeito enquanto eu mexia e remexia as horas de todos os
meus dias.
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