As flores cúmplices do luar
No
jardim em frente ao meu quarto há um canteiro enorme com flores cúmplices do
luar que só libertam o seu cheiro depois do sol se esconder para lá do
horizonte.
Um
perfume intenso e inesperado que me abraça na noite enquanto caminho escutando
o canto de cigarras, sentindo ao longe a perseverança do afecto das ondas
enrolando-se na praia.
Quem
disse que não há encantos guardados nos momentos em que o sol não brilha?
O
segredo será talvez o "acender" de todos os sentidos e não amputarmos
a hora do benefício de qualquer um deles.
O
sol voltará sempre, já o sabemos, tenha a noite a aparência de longa ou curta,
tenha ou não o luar a companhia de doces aromas de flores... mas a espera da
madrugada nunca é um tempo morto e é em si mesma um tempo de
"prazeres" únicos a não rejeitar.
A
vida não é intermitente e nunca é ou será cativa do brilho do sol que nos faz
os dias.
A
madrugada devolveu-me o azul do mar de que eu desfruto enquanto caminho só pela
areia sentindo aqui e ali o beijo fresco de uma onda mais ousada e distendida.
Este
azul tem a cor do sorrir de alguém.
Gosto
do cheiro da maresia, deste odor salgado de algas e de tudo o grande que o mar
guarda em si.
Mas
o perfume das flores guardo-o apenas da noite.
E
o teu sorriso?
Também está guardado nas noites, em mim e nos meus sonhos, muito mais do
que aqui ao sol no azul do mar.
Comentários
Enviar um comentário