O último dia de férias
Já
está, cheguei ao meu último dia de férias.
Durante
um pouco mais de três semanas tive tempo para passear no campo, na serra, nas
cidades, nas ruas com muita gente, nos trilhos solitários e só meus, à beira
mar, nas margens dos rios, dos lagos azuis, das ribeiras com aroma de hortelã e
poejo…
Cantei,
assobiei, comovi-me, chorei, ri muito, encantei-me com as palavras dos poetas e
com as canções que fui escutando. Li e reli Eugénio de Andrade e definitivamente
fiz minha (nossa) a fantástica Where
dreams go to die, de John Grant.
Escrevi
prosa, crónica, romance e poesia, à luz de um luar gigante ou de um sol mais ou
menos envergonhado; a olhar o Douro, o Tâmega e o mar Atlântico; escrevi por
entre o cheiro a flores, a campo, a maresia… mas sempre a pensar em ti.
Sorri
muito sob o privilégio do afecto dos meus pais a quem dei o braço em inesquecíveis
passeios, e também sob o efeito doce das palavras e das memórias que soubemos
ir semeando pelos dias.
Bebi,
brindei com vinho, cerveja e sangria, comi petiscos, gaspacho, sardinhas, bolas
de Berlim…
Iniciei
muitos dias a saborear o mar e simultaneamente o prazer de um bom café com
gelo.
Li
mensagens, comentei fotos, vídeos, partilhei piadas e até já gritei golos do
Benfica.
Falei
muito e saboreei todos os silêncios e o privilégio que ele nos oferece de
podermos falar a toda a hora com aqueles a quem queremos muito.
Arrumei
o escritório vasculhando memórias.
Abandonei
o relógio para que não existisse hora para nada, existindo simultaneamente tempo
para tudo.
Estive
na praia, procurei conchas, falei com o mar nos instantes ali naquele terreno
mágico onde as ondas se rendem à areia e ela nos desenha o caminhar.
Tomei
banhos no mar e à excepção da chuva num domingo no Monte de Santa Luzia, não
despejei sobre mim qualquer outra água fria. No mundo já se mete demasiada água,
e para além disso, gosto mais de nomear os que amo por via do coração e do
pensamento.
Namorei,
umas vezes sob o olhar doce da pessoa por quem se me solta a poesia, outras,
muitas mais, naquele abraço perpétuo que a memória sempre nos oferece fazendo
com que a distância de quem amamos seja apenas um desprezível detalhe de
natureza geográfica.
Mas
já está… as férias acabam hoje.
Tenho
no entanto de confessar que gostando muito do que faço no trabalho e das
pessoas com quem o faço, já tenho saudades e me vai fazer muito bem o regresso.
Há
mais de um mês que não tomo o café matinal com a minha querida colega Carla
Antunes, e isto é uma violência.
No
fundo, quer falemos de férias ou trabalho, o segredo é sempre o mesmo, é
fazermos nossos todos os dias pondo-lhes a marca do que queremos, rodeados pelas
pessoas de quem gostamos.
Venham de lá então os doces dias de trabalho.
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