A fogueira acende-se no local de onde varremos as cinzas de outros fogos que o tempo apagou
A
fogueira acende-se no local de onde varremos as cinzas de outros fogos que o
tempo apagou.
Varremo-las
e deitámo-las ao vento, restando apenas quiçá algum pó que se nos cola à pele e
aos lábios; pó e palavras ditas como pedaços de uma história que dá lugar agora
ao brilho incandescente que acendemos sobre a madeira que a floresta na sua
generosidade criou para nós.
E
com o fôlego do muito querer, sopramos intensamente sobre o lume até ao momento
em que as chamas sobem no ar e colhem de nós a sombra de um beijo que projectam
ao longe na parede que é branca por bênção da mais pura cal.
E
tu dispensas o calor da fogueira e pedes às minhas mãos que aqueçam as tuas
quando o último vestígio de pó se me solta dos lábios pela insistência nos
beijos e no pronunciar sussurrado da palavra amor.
A
fogueira que não se apaga e que crepita noite fora embalando-nos no sono que
cobrimos com um abraço.
Depois…
Tu
aproximas-te de mim que te espero sentado numa das mesas do Nicola. É Dezembro
e em Lisboa, no Rossio, sente-se o frio de quase Natal.
Caminhamos
com o passo alinhado no rigor perfeito do abraço de quem se ama… mas de repente
tu paras e pedes que te aqueça as mãos.
É
verdade.
Tudo
é igual ao sonho de há pouco ali sentado acordado à mesa do café.
Tu existes mesmo e aqueces-me a noite com o fulgor de uma fogueira acesa
sobre as cinzas e mortalhas de todos os lumes da minha história.
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