Porque nunca nenhum dia é suficientemente vazio…
O
comboio acelerou pelas linhas que cruzam a maquete feita pelos Ricardos e
baptizada ontem pelo João como a “Vila Barreiros”, com direito inclusive a uma toponímia
muito especial e familiar, com a rua dele a ser um pouco mais comprida do que a
do mano Luís ou a do primo Afonso.
Não
me recordo há quantos anos o comboio estava guardado no armário do escritório
depois de me ter sido oferecido pelo Juan Blas; talvez quinze. Na vida e na
nossa história, nunca nada é suficientemente velho para não poder um dia saltar
do mais recôndito da memória e proporcionar-nos assim uma tarde com o melhor do
Natal.
E
depois do resto da tarde a contabilizar presépios, a arrumar os papéis dos “desembrulhos”
da noite, a não resistir a uma filhós ou uma azevia sempre que o trajecto passa
pelo prato gigante onde moram, a responder a mais umas mensagens de Natal… o
sono pelo prolongado serão de ontem encurta o de hoje e a cama transforma-se
num apetecível refúgio para o frio de Dezembro no Alentejo.
Não
ouvi o telefone a sinalizar uma mensagem, li-a mais tarde pelas quatro horas
quando acordei e quis saber as horas.
Foi
bom saber que gostaste do romance que escrevi para ti com pedaços da tua
história que me contaste nos instantes perfeitos que passámos entre o Chiado e
o Tejo. Os momentos perfeitos nascidos há tão pouco mas sonhados em mim há uma
vida inteira.
Chorei
na madrugada de Vila Viçosa, não sei se por mim, por ti, pela saudade… de
felicidade sim, muito e por certo.
E
o Natal é tecido também por esta bênção de uma chegada tão feliz e única
algures no ano que termina.
E
o Natal é a vida tecida assim pela história e por tudo aquilo que o presente
faz nosso, às vezes súbita e inesperadamente no dobrar da esquina mais
improvável.
Porque
nunca nenhum dia é suficientemente vazio para não podermos esperar que ele nos
traga finalmente a sorte.
E
o dia a seguir ao Natal, ainda por Vila Viçosa e a “desenratar” com um almoço
de feijão com alabaças, é infinitamente mais feliz.
Por
tudo… e por tantos.
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