Depois, cheguei a casa e coloquei palavras na poesia que tinha bebido de ti
Os
dias são como os Homens e não se medem aos palmos; e por isso, porquê temer que
desde aqui e até ao solstício de inverno, lá para o próximo dia 21, o tempo de
sol seja cada vez menor.
Para
além do facto das noites serem afinal pedaços de dia em que não vemos o sol mas
temos a lua e as estrelas, a vida ganha-se tantas vezes num breve instante, com
independência de brilhar ou não o sol no firmamento; que bem mais importante para
isso são os detalhes de luz que insistimos em não apagar em nós.
Ainda
esta semana irei ter à minha frente um grupo de alunos do ensino básico para quem
irei falar de poesia.
Sobre
o que é a poesia.
A
missão não se me afigura fácil e por isso tenho pensado insistentemente no
assunto.
Durante
o fim-de-semana em Vila Viçosa fiz inclusive trabalho de campo com o meu
sobrinho João, e os dois sentados à braseira tentámos construir uma história
que tivesse em si a própria poesia.
Propôs
ele que o argumento se poderia centrar numas crianças que ensinariam o pai a
fazer aviões de papel. E vincou muito bem:
-
Mas aviões daqueles bons e que voam mesmo.
E
pareceu-me interessante.
Desde
logo porque o “fluxo na poesia” vai das crianças para os adultos e não o
contrário; e depois porque a poesia é apresentada como uma capacidade de voar…
mas voar mesmo.
Em
relação à sessão desta semana já me deixa mais tranquilo porque serei eu quem à
partida irá à escola “colher” detalhes da poesia; e depois, e se a poesia é a
capacidade de voar, mas de voar mesmo; fica explicado porque é que eu senti ter
asas quando estava sentado à tua frente no outro dia, e entre palavras e
histórias, me abstraí um pouco para saborear o pensamento de que contigo a vida
tinha ganho tudo e um sentido.
E
até não havia sol.
Brilhava
a lua cheia sobre Lisboa, brilhavam as estrelas e o teu olhar; e o dia de
Dezembro que até poderia ser alcunhado de pequeno foi dos maiores que já vivi.
Depois,
cheguei a casa e coloquei palavras na poesia que tinha bebido de ti.
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