Pelo amor, claro.
A
noite de Lisboa acendeu a ponte e o Natal já espalhou milhares de outras luzes
na expressão de um tempo de negócio, muito mais do que de boa vontade.
A
cidade faz-se inteiramente minha ao redor da meia-noite, e apenas um eléctrico
que passa em direcção ao seu repouso em Santo Amaro, me retira o privilégio de
uma rua rasgada só para mim.
O
rio está ali bem perto e sinto-o na face, no fresco que o meu passo acelerado
ainda atrai com mais veemência.
Há
noites como hoje em que brotam ilhas de afecto no mar de indiferença e solidão
da cidade, e levo comigo nesta viagem até ao carro, a esperança colhida do
rosto feliz de quem vive à margem e para quem um prato de carne com massa é
infinitamente mais Natal do que uma luz semeada pela Junta de Freguesia.
A
esperança na alma que suplanta hoje em mim e definitivamente qualquer dor nos
pés ou o cansaço nas pernas.
O
que são as minhas dores e os meus cansaços de uma só noite quando comparados
com os da gente que os sente em todas as noites?
Acelero
o passo.
Está
frio.
São
vinte e três horas e dezanove minutos quando soa uma mensagem tua. Tratas-me
por amor e eu não resisto e rasgo um sorriso que descompõe definitivamente o
cerrar de dentes que enfrenta o frio que vem do Tejo.
Tu
és o amor que sempre desejei para os meus dias e todas as minhas noites.
Sinto-o cada vez mais certo.
E
um homem feliz é irremediavelmente aquele que caminha envolto no amor que
preenche cada mais pequeno detalhe da sua vida; sem excepções.
Sigo
a pensar em ti…
E
pisco o olho à ponte.
Afinal,
somos da mesma idade, estamos iluminados nesta noite fria e ambos matámos a
distância que há entre todas as margens.
Pelo
amor, claro.
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