As casas que guardam as palavras
Hoje
é Dia Internacional do Livro e por isso me propus o difícil exercício de
seleccionar dez obras que me marcaram nas diferentes fases da vida. Fico com a
clara sensação de que faltam aqui muitas mais, mas estas recordo-as pelas
histórias e pelo muito que representaram para a minha própria História.
Partilho convosco:
Os Cinco na Quinta
Finniston (Enid Blyton)
Poderia
colocar aqui qualquer um dos 21 livros que compõem a colecção de “Os cinco”,
estive muito indeciso entre este que é o número 18, e o 10 que é “Os cinco no
Lago Negro”. Optei pela Quinta Finniston
porque foi o primeiro que li. Nas tardes de Vila Viçosa algures entre os meus 8
e 10 anos, quantas aventuras e quanto desejo de comer scones e beber limonadas.
Platero e eu (Juan Ramón Jimenez)
A Andaluzia é
afinal tão próxima do Alentejo e como é bom descobrir que as coisas realmente
importantes estão afinal guardadas nos detalhes mais simples. São os
privilégios de quem é do campo.
Homem rico, homem pobre
(Irwin Shaw)
Li-o algures
pelo verão de 1983 quando já me preparava para ser adulto e numa altura em que
ainda acreditava que crescer é conhecer a fundo todos os Homens. Talvez esta
obra tenha sido a primeira lição de que definitivamente nunca os conheceremos
pois há territórios blindados no imprevisível ser de cada um.
A história do cerco de
Lisboa (José Saramago)
Considero Saramago
o melhor escritor Português do Século XX e não existe nenhum livro dele que
verdadeiramente não goste. Escolhi este por ter sido o primeiro que li, no
verão de 1991, em Sesimbra e em frente ao mar, uns dias antes de ser
incorporado no Exército Português. Da história fica esta certeza de que é
impossível não ter uma opinião sobre tudo o que nos cerca e de como às vezes
uma vírgula ou um ponto final, afinal tão pouco, podem mudar o curso da própria
história.
Memórias de Adriano
(Marguerite Yourcenar)
Considero-o o
melhor livro que já li até hoje e li-o pela primeira vez também em frente ao
mar algures numas férias nos anos noventa. O testamento do imperador expresso
nas memórias de tudo, e sobretudo no que mais conta, o amor a que nunca
deveremos virar costas.
As horas (Michael
Cunnyngham)
Três momentos
e três mulheres, idênticos afectos e a mesma ambição / inquietação. O tempo
conta-se em ciclos.
O Primo Basílio (Eça de
Queirós)
Eça é para
mim o melhor escritor Português de sempre. Ninguém como ele falou do Portugal
do final do Século XIX e desenhou por palavras este perpétuo jeito de ser
Português feito de públicas virtudes e tantos vícios privados. Poderia também colocar
aqui Os Maias, A Relíquia ou A Capital.
De
profundis valsa lenta (José Cardoso Pires)
Um dos livros
mais fantásticos que já li e que privilégio ter sido escrito por um Português.
A “ressurreição” de uma espécie de morte numa narrativa na primeira pessoa.
A Mensagem (Fernando
Pessoa)
O meu poeta
de eleição, genial em cada palavra e aqui a cantar o orgulho lusitano.
Cem anos de solidão
(Gabriel Garcia Marquez)
Às vezes as
casas não têm telhados e as pessoas bebem das estrelas a magia que lhes oferece
vidas únicas. Ler e sonhar.
Como
é hábito trocar livros e flores neste Dia de S. Jorge, deixo-vos aqui também uma
flor da minha modesta autoria…
Sobre a mesa há um velho
livro aberto
Que herdou de uma rosa, aroma de flor
Nestas páginas o sonho andou desperto
Solto nas palavras de um grande amor
um
abraço e um sorriso.
E que nunca morram as palavras.
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